Uma das maiores preocupações na prevenção de conflitos hoje em dia é a ameaça dos Estados Nacionais frágeis, países que podem entrar em colapso, observa o jornalista inglês Ivan Briscoe, pesquisador sênior da Fundação de Relações Internacionais e Diálogo Exterior (Fride), que participou no início do mês do 3º Encontro do Grupo de Análise e Prevenção de Conflitos da Universidade Cândido Mendes.
“Durante a Guerra Fria, havia países extremistas ideologicamente”, lembra Briscoe. “Hoje, resta só a Coréia do Norte. A maior preocupação é com Estados frágeis e sociedade incivilizadas que provocam desastres humanitários.”
Quando um Estado entra em colapso, atinge toda a região. “Um sexto da população mundial vive em Estados falidos, na África, no Afeganistão, no Haiti”, adverte o pesquisador. “O alarma veio com os atentados de 11 de setembro. Eles podem ser foco de terrorismo, criminalidade, epidemias. Mas apenas alguns são perigosos: Somália, Sudão, Afeganistão, por exemplo”.
Briscoe acredita que “o Afeganistão e o Haiti exigem pelo menos 20 anos de missão de paz, um longo compromisso internacional adaptado às demandas domésticas”.
A preocupação e a prevenção de conflitos devem-se a razões humanitárias e a riscos para a segurança internacional. Sem um Estado que funcione, é grande o risco de retorno da violência; 44% dos países pacificados retornam à violência dentro de cinco anos.
No final da Guerra Fria, nos anos 80 e 90, no Camboja, no Sul da África e da América Central, a fórmula era eleições livres e economia de mercado. “A versão madura tem muito mais cuidado com as questões políticas, o impacto da economia de mercado, a necessidade do processo ser conduzido por lideranças locais”, acrescenta Briscoe.
“Desde 2001, a União Européia transformou a prevenção num ponto central de sua política exterior”, diz o jornalista mas os recursos ainda são muito limitados. “Os países preferem ficar com seus próprios recursos. Alguns preferem dar apoio depois dos conflitos, não entendem a prevenção, como construir a paz e as instituições”.
A expansão da UE é um mecanismo de prevenção de conflitos, já que a promessa de associação futura serve para controlar crisis. Uma paz estável depende da construção de um Estado que funcione.
No caso de uma intervenção estrangeira, a estabilização ganha precedência sobre as mudanças necessárias para resolver as injustiças sociais que provocaram o conflito. No Afeganistão, por exemplo, houve uma mudança política mas não foi criado um verdadeiro Estado de Direito. As facções locais estão convencidas de que a intervenção estrageira não vai durar muito tempo.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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