A invasão do Iraque pelos Estados Unidos em março de 2003 mostrou que “o estado de guerra será dominante no sistema internacional”, afirmou ontem o professor Pedro Cunca Bocayuva, do Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ.
Ao participar do debate Estratégias de Promoção da Democracia, realizado na quarta-feira-feira, 31 de janeiro, no Centro Brasileiro de Relações Internacionais, no Rio de Janeiro, ele observou que a Guerra do Iraque trocou a legitimidade pela solução de força. “É a ONU contra um sistema hobbesiano, em que os interesses nacionais prevalecem”, analisou Cunca Bocayuva.
“Na democracia, há sempre uma tensão entre os limites legais e as tentativas de ampliação de direitos. Cabe à política a regulação das relações entre as forças.”
Para garantir os Jogos Pan-Americanos deste ano, por exemplo, “o Rio será militarizado”, constata o professor.
“As organizações não-governamentais trabalham com um novo paradigma: democracia x autocracia; ampliações x restrições, globalização x democracia, unilateralismo x multilateralismo”, disse Bocayuva, colocando algumas questões: “O excesso de demandas impede a eficácia? Há, como diz a visão conservadora, uma hipertrofia do Estado?”
Tanto as democracias quanto o socialismo real foram questionados nas revoluções de 1968, que produziram uma ruptura, lembra o professor.
Ele adverte que “a democracia revela e amplia conflitos, aumenta o poder tecnocrático e corporativo, criando um enorme risco de desqualificação da política e da crise dos partidos”. E observa que “o populismo não exclusivo”, não é apenas mais um sintoma do subdesenvolvimento político da América Latina, citando como líderes populistas os presidentes dos Estados Unidos, George Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, e o ex-primeiro-ministro italiano.
Então nem sempre democracia rima com estabilidade. A Itália viveu crises gigantescas e sucessivas que derrubaram mais de 50 governos desde 1945. Nos EUA, a democracia está associada aos direitos civis. Na Europa, ao bem-estar social, à proteção social garantida pelo Estado. Na América Latina, completa Cunca Bocayuva, “o crescimento legitima a democracia e a autocracia. A legitimidade vem da capacidade de se modernizar”. O mesmo vale para a China.
Outra questão “é o colapso da democracia venezuelana, que na verdade era uma oligarquia. Fracassado seu golpe, Hugo Chávez entrou democraticamente, o que mostra que a democracia pode produzir o autoritarismo.”
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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