O ex-ditador chileno Augusto Pinochet (1973-90), de 91 anos, sofreu um ataque cardíaco neste domingo, foi submetido a uma cirurgia de emergência para desobstruir artérias esclerosadas mas sua situação ainda é grave. Ele deveria ser operado outra vez mas os médicos consideraram nova cirurgia muito difícil diante do estado de saúde do paciente, que já recebeu a extrema-unção.
Eram 2h da madrugada, hora de Santiago, quando Pinochet, acusado de violações dos direitos humanos, inclusive da morte ou do desaparecimento de mais de 3,1 mil pessoas, e de corrupção, foi levado para o setor de emergência de um hospital da capital chilena.
Pinochet era considerado um general medíocre, e portanto inofensivo, quando foi nomeado comandante do Exército pelo presidente socialista Salvador Allende, logo derrubado por um golpe militar, em 11 de setembro de 1973.
O general governou o Chile com mão de ferro. Foi o único ditador durante todo o regime militar chileno. Impôs reformas neoliberais que impulsionaram o crescimento econômico, dando uma sobrevida à ditadura chilena.
Em 1988, Pinochet submeteu seu regime a um plebiscito, pedindo um mandato para continuar na presidência. Perdeu mas teve cerca de 40% dos sufrágios, um resultado impressionante para um ditador sanguinário.
No ano seguinte, Patricio Aylwin se tornava o primeiro presidente eleito democraticamente no Chile desde Allende, em 1970. Na época, não havia segundo turno. Allende teve cerca de 36% dos votos. Não tinha maioria no Congresso e enfrentou uma dura oposição de direita até o golpe de 1973.
Havia muitos brasileiros e outros militantes de esquerda latino-americanos refugiados no Chile ou trabalhando no governo socialista quando veio o golpe. Já ouvi histórias de quem foi levado para o Estádio Nacional de Santiago, onde houve tortura e assassinato em massa, inclusive do cantor e compositor popular Victor Jara.
A repressão foi brutal. Como a ditadura militar argentina de 1976-83, o regime de Pinochet é culpado de politicídio, tentou exterminar toda uma corrente de pensamento político. Este delito só não consta das convenções sobre genocídio e outros crimes contra a humanidade porque o ditador soviético Josef Stalin vetou. Afinal, o comunismo prega a destruição do modo de vida liberal burguês.
Grupos radicais aderiram à luta armada contra a ditadura. A Frente Patriótica Manuel Rodríguez quase matou Pinochet num atentado, provocando uma nova onda repressiva. O Chile terminou sendo o último país sul-americano a voltar à democracia.
No acordo para a transição, Pinochet manteve o comando do Exército até 1998. Quando fez uma visita a Londres sem imunidade, foi preso em 16 de outubro de 1998 por força de um mandado internacional a pedido do juiz espanhol Baltasar Garzón, que o denunciou por crimes contra a humanidade.
A prisão de Pinochet criou um problema para o governo britânico, preocupado ao mesmo tempo em não dar imunidade a um ditador e em não criar problemas em suas relações tanto com o Chile quanto com o governo direitista espanhol.
O caso Pinochet só foi resolvido numa negociação tripartite realizada durante uma reunião de cúpula da União Européia com a América Latina, no Rio de Janeiro, em 1999. Quando o ministro do Exterior espanhol afirmou que a Espanha não queria receber o general para julgamento, a despeito da insistência do juiz Garzón, a Grã-Bretanha usou supostos problemas de saúde do ex-ditador como pretexto para alegar insanidade mental e assim incapacidade de entender o julgamento.
Pinochet voltou ao Chile mas sua impunidade estava abalada. Diversos processos foram abertos contra o general, sempre defendido pela direita e pelos que enriqueceram sob seu regime. Quando foi descoberto, em 2004, que Pinochet tinha US$ 27 milhões no exterior, seu prestígio foi definitivamente atingido mesmo entre os que sempre o apoiaram por combater o socialismo e o comunismo no Chile.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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