O governo da Síria afirma ter desmontado uma operação terrorista na última sexta-feira, 2 de junho, matando quatro militantes e capturando outros quatro escondidos perto da rádio e da televisão estatais, que poderiam ser alvos. É mais provável que estes militantes sejam fundamentalistas muçulmanos.
Mas o jornal oficial Tishrin, depois de falar "na linguagem inflamada de figuras bem-conhecidas dos países vizinhos que tentam provocar ataques terroristas e operações suicidas dentro de Síria", pergunta "se o que aconteceu ontem no centro de Damasco não era uma realização das ameaças israelo-americanas.
A Síria acusa diretamente os EUA. Alega ser a primeira vez que armas dos EUA não usadas no país foram apreendidas.
O regime do Partido Baathista sírio, cuja origem é a mesma do Partido Baath de Saddam Hussein, é dominado pela dinastia Assad. Foi criado por Hafez al Assad, um oficial da Força Aérea que primeiro foi ministro da Defesa depois do golpe de 1966, que levou o partido ao poder, e deu o golpe em 1970 tornando-se o homem-forte da ditadura militar síria.
Hafez Assad governou a Síria com mão-de-ferro até sua morte, em 2000, e legou o poder para seu filho Bashar al-Assad, que ensaiou uma abertura econômica moderada mas mantém o regime político fechado.
Em 1990, quando o Iraque de Saddam Hussein invadiu o Kuwait, Assad aproximou-se dos EUA e participou como aliado na Guerra do Golfo (1991). Aproveitou, na época para consolidar o domínio sírio sobre o Líbano, com a derrota final dos cristãos na guerra civil libanesa.
Só no ano passado, depois do assassinato do ex-primeiro-ministro libanês Rafik Hariri, a Síria encerrou sua intervenção no país vizinho, onde ainda exerce enorme influência, inclusive através de grupos como Hesbolá, o Partido de Deus, xiita.
Contrária a acordos bilaterais com Israel, a Síria é acusada pelos americanos e israelenses de boicotar as negociações do Oriente Médio. Serve de base para diversas grupos que lutam contra Israel.
Quando assinou os acordos de paz com os palestinos, o então primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin teria iniciado uma negociação com a Síria em torno das Colinas do Golã, território sírio ocupado na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e anexado a Israel em 1981.
Hoje em dia, com o desenvolvimento da tecnologia de mísseis, as colinas não têm mais a antiga importância estratégica. Mas há outras questões como o controle da água e do Mar da Galiléia.
Uma dúvida é se Rabin quis efetivamente negociar com a Síria, se considerava possível um acordo, ou se apenas acenou com a possibilidade para conter reações negativas da Síria contra o acordo palestino-israelense de 1994.
Da aliança com os EUA contra Saddam em 1990 até hoje, a Síria sente-se cercada e isolada, sob intensa pressão americano-israelense. É claro que o governo George W. Bush gostaria de estender sua política de "mudança de regime" a Damasco. Mas o atoleiro de 135 mil soldados americanos no Iraque desaconselha novas aventuras militares.
Um dos maiores inimigos do regime sírio é o fundamentalismo islâmico, o que em princípio permitiria uma negociação com os EUA. No início dos anos 80, a Irmandade Muçulmana instalou-se em Hama, a quinta maior cidade da Síria. Em fevereiro de 1982, o general Assad mandou arrasar a cidade, matando 30 mil pessoas. Foi sua resposta ao islamismo militante.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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