O primeiro-ministro do Iraque, Nuri al-Maliki, indicou finalmente os ministros da Defesa, o sunita Abdel Kader al-Obeidi, e o do Interior, o xiita Jawad al-Bolani, de certa forma aproveitando a euforia criada pelo morte do terrorista Abu Mussab al-Zarkawi para reafirmar sua autoridade. Ambos não têm ligações com as milícias responsáveis pelo maior número de mortes no conflito sectário entre xiitas e sunitas, que teria provocado 6 mil mortes neste ano.
Até agora o Ministério do Interior era suspeito de apoiar os esquadrões da morte das milícias xiitas. Isto foi usado por Zarkawi para incitar o ódio entre sunitas e xiitas, uma estratégia que desagradava até o líder máximo d'al Caeda, Ossama ben Laden, contrário a ataques indiscriminados contra muçulmanos.
Se inicialmente a insurgência se voltava contra as tropas invasoras, com o tempo a maioria dos atos de violência passou a ter iraquianos atacando iraquianos. Esta estratégia de criar uma guerra civil prolongada serve aos interesses dos terroristas, que apostam no caos e na anarquia, no colapso do Estado para instalar seu poder paralelo nestes vácuos de poder, como fizeram no Líbano nos anos 80 e no Afeganistão nos anos 90.
A morte de Zarkawi e a formação do primeiro governo de união nacional no Iraque, com participação de xiitas, sunitas e curdos, criam uma oportunidade única para a reconstrução do país. Mas as dificuldades são enormes.
Os sunitas querem emendar a Constituição para evitar que a maioria xiita (cerca de 60% dos 25 milhões de iraquianos) conquiste o monopólio do poder e controle a renda do petróleo. Mas é difícil que consigam bloquear o projeto de xiitas e curdos de maior autonomia regional. Como a maioria do petróleo está na região xiita do Sul e na região curda do Norte, os sunitas, que estavam no poder desde que o Império Otomano tomou o Iraque do Império Persa, em 1638, temem ser excluídos do banquete.
Um novo campo de petróleo foi descoberto no Curdistão iraquiano, anunciou-se ontem. Os curdos querem fechar um contrato diretamente com uma empresa da Noruega mas o governo central entende que é sua atribuição.
A indústria do petróleo precisa voltar a funcionar para sustentar a recuperação do Iraque. Se a economia não prosperar e não houver empregos, se a vida não voltar ao normal, com serviços básicos como segurança pública, energia elétrica e abastecimento de água, quem ganha é a insurgência.
O governo Maliki ainda tem um longo caminho a percorrer para conquistar legitimidade.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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