domingo, 18 de junho de 2006

Austrália, de colônia penal a um dos melhores países do mundo

O adversário do Brasil neste domingo na Copa da Alemanha nasceu como uma colônia penal mas tornou-se um dos melhores países do mundo. Está em terceiro lugar no índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, abaixo apenas da Noruega e da Islândia. Em política externa, aproximou-se do Leste da Ásia, beneficiando-se de seu crescimento econômico, e alinhou-se aos Estados Unidos, inclusive enviando 2 mil soldados para a invasão do Iraque.

Com 7,7 milhões de quilômetros quadrados, a Austrália é o sexto maior país do mundo, atrás da Rússia, China, Canadá, EUA e Brasil. Tem uma população de apenas 20 milhões de habitantes. Isto a torna um dos destinos favoritos para migrantes mas o governo conservador há 10 anos no poder é rigoroso com a imigração ilegal.

Seus primeiros habitantes, os aborígenes, habitam a maior ilha do planeta desde 45 mil anos antes de Cristo. Seriam de 150 a 350 mil quando os europeus chegaram. Hoje, depois de massacres e discriminações, são 60 mil.

Portugueses, holandeses e franceses estiveram na ilha antes que o capitão James Cook tomasse posse do território em nome do Império Britânico. Em 1788, foi instalada uma colônia penal para criminosos britânicos.

Por isso, até hoje os ingleses contam uma piada politicamente incorretíssima: “Quando alguém vai pedir visto para a Austrália e o funcionário consular encarregado dos vistos pergunta se o viajante tem antecedentes criminais, responda com uma pergunta: ainda é necessário?”

A realidade é totalmente diferente. Seis colônias (Austrália do Sul, Austrália Ocidental, Nova Gales do Sul, Queenslândia, Tasmânia e Vitória) foram criadas nos séculos 18 e 19, dedicando-se inicialmente à agricultura e à pecuária. Uma corrida do ouro no final do século 19 atraiu mais migrantes.

Em 1901, as seis colônias formaram uma federação que até hoje continua a ter como chefe de Estado oficial o rei ou a rainha da Inglaterra.

Há um movimento republicano emergente mas, em 1999, um plebiscito manteve o regime monárquico, com um governo-geral que em tese representa a rainha porque o presidente não seria eleito pelo voto popular. Mais do que votar pela rainha, os australianos rejeitaram um chefe de Estado escolhido indiretamente, pelo Parlamento, mais um político para viver da máquina do Estado.

O país participou ativamente das duas guerras mundiais ao lado do Reino Unido. Hoje passou para a esfera dos EUA e se apresenta cada vez mais como um país asiático, beneficiando-se do extraordinário crescimento econômico da região.

De 1945 a 1973, mais de 2 milhões de imigrantes europeus desembarcaram na Austrália. Depois, foram revogadas as leis racistas que proibiam a imigração de não-brancos, o que atraiu asiáticos e nativos das ilhas do Pacífico.

A luta contra a discriminação dos aborígenes ganhou força a partir dos anos 60. Na Olimpíada de Sídnei, em 2000, Cathy Freeman, uma atleta aborígene, acendeu a tocha olímpica. Mas também surgiu um partido para lutar pela supremacia dos brancos Uma Nação, liderado pela ex-deputado Pauline Hanson.

ALIADA DOS EUA
Há três décadas, a cena política é dominada por três partidos, o Nacional da Austrália, o Liberal da Austrália e o Trabalhista Australiano. Desde 1996, o país é governo por uma coligação conservadora do PLA e do PNA liderada pelo primeiro-ministro liberal John Howard, que alinhou ainda mais o país com os EUA.

Como aliada incondicional dos EUA, a Austrália forneceu o grosso das tropas e do equipamento para a força de paz da ONU no Timor Leste, em 1999, quando acabou a ocupação indonésia e o país se tornou independente. Na visão dos fundamentalistas muçulmanos e de seu líder Ossama ben Laden, foi um território islâmico perdido para o cristianismo.

Dos 202 mortos no atentado terrorista na ilha de Báli, na Indonésia, em 12 de outubro de 2002, 88 eram australianos. Este ataque engajou a Austrália na guerra global dos EUA contra o terrorismo dos fundamentalistas muçulmanos, o jihadismo.

Nesta semana, o primeiro-ministro John Howard protestou contra a libertação, na Indonésia, de Abu Bakar Bachir, líder do Conselho dos Muhahedins da Indonésia e ideólogo do grupo Jemaah Islamiya, acusado não só pelo atentado em Báli mas também por atacar igrejas cristãs na véspera do Natal de 2000.

Para o ministro do Exterior da Austrália, Alexandre Downer, “o terrorismo internacional é diferente do terrorismo de movimentos de libertação nacional como o Exército Republicanos Irlandês (IRA)”, que lutava pelo fim do domínio britânico na Irlanda do Norte.

“É uma perversão do islamismo que tenta impor uma interpretação grotesca do Islã”, declarou Downer no Royal Institute of International Affairs em 31 de outubro de 2002, semanas depois do atentado em Báli. “Um dos desafios é evitar um choque de civilizações.”

Downer sabe que “o objetivo dos jihadistas é tentar derrubar governos moderados, seculares e modernos de países muçulmanos para impor uma talebanização. Não foi apenas um ataque contra ocidentais, foi contra o pluralismo da emergente democracia da Indonésia”.

Com seus tentáculos globais, Al Caeda foi capaz de penetrar no Sudeste Asiático e de se aliar aos fundamentalistas locais na Indonésia, na Malásia, nas Filipinas e na Tailândia.

Maior país muçulmano do mundo, com 245 milhões de habitantes, a Indonésia é uma das grandes preocupações da política externa da Austrália. Quando o ditador Suharto caiu, em 1998, em plena crise econômica asiática, o pesadelo australiano era que milhões de refugiados tentassem chegar à Austrália em barcos precários, como fizeram os vietnamitas depois da Guerra do Vietnã.

Isto não aconteceu. Agora o maior risco é o fundamentalismo muçulmano, que exige cooperação internacional entre os serviços secretos, cortar as fontes de financiamento do terrorismo, fortalecer as policias e serviços de imigração, enquanto o papel dos militares é limitado, acrescentou Downer.

“A Indonésia foi fragilizada pela crise asiática”, observou o chanceler australiano. “A pobreza não é a causa do terrorismo. Mas num ambiente de pobreza é fácil para o terrorismo prosperar. As escolas extremistas são as encubadoras.”

MILAGRE ECONÔMICO
Com um produto interno bruto de US$ 560 bilhões, a Austrália é o 15º país mais rico do mundo. A renda media por habitante é de US$ 28 mil por ano.

Os conservadores beneficiam-se do chamado ‘milagre econômico’ australiano. A Austrália cresceu 3% em 2003, 4% em 2004 e 5,6% em 2005. Mas há diversos problemas no horizonte. Uma expansão sem precedentes do mercado imobiliário criou uma bolha. Os lares estão fortemente envididados, mais do que nos EUA.

Talvez o problema mais sério seja a dívida externa de US$ 370 bilhões, alimentada em 2005 por um déficit em conta corrente de US$ 41 milhões. Cresce US$ 1,3 bilhão por semana, na medida em que o país acumula déficits comerciais, alimentandos no momento pela alta nos preços do petróleo.

Mas a economia australiana se beneficia com o crescimento da Ásia, sobretudo da China, que aumenta a demanda por suas matérias-primas. A maior parte do PIB vem do setor de serviços (turismo, educação e finanças). A mineração contribui com 5% e a agricultura com apenas 4% mas são importantes para a exportação.

Suas maiores exportações são produtos primários, como carvão, ouro, carne, lã, alumina, minério de ferro e trigo, além de máquinas e equipamento de transportes. O país é o maior produtor mundial de diamantes e tornou-se um dos maiores exportadores mundiais de vinho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu pouco sabia sobre a Austrália. Quando ouço dizerem que o Brasil é isto que se vive porque foi colonizado por bandidos e degredados, cito o exemplo da Austrália, que foi colônia penal e tornou-se uma grande País. Incomparações infelizes muitas vezes querem ocultar responsabilidades pessoais.