sábado, 17 de junho de 2006

Mercosul firma protocolo de adesão da Venezuela

Em reunião extraordinária realizada em Buenos Aires, os ministros das Relações Exteriores do Mercado Comum do Sul (Mercosul) assiinaram neste sábado o protocolo de adesão para que a Venezuela se torne o quinto membro pelo do bloco criado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que tem como membros associados Bolívia, Chile, Colômbia e Peru. O México também manifestou interesse em se tornar membro associado.

"O Mercosul representa agora 75% do produto regional bruto da América do Sul", comemorou o chanceler venezuelano, Alí Rodríguez, que na sua opinião "fortalece a posição comum da região no cenário internacional". Na próxima reunião de cúpula, em 20 e 21 de julho, em Córdoba, na Argentina, os chefes de Estado confirmarão a adesão venezuelana.

No encontro de Buenos Aires, foi discutida ainda a chamada "guerra das papeleiras" entre Argentina e Uruguai, provocada pela construção de duas fábricas de papel e celulose na margem uruguaia do Rio Uruguai. O governo argentino recorreu à Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas, com sede em Haia, na Holanda, alegando danos permanentes ao meio ambiente.

Já o Uruguai ameaçou sair do Mercosul porque a Argentina não aceitou levar a questão, que considera bilateral, ao Conselho Consultivo do bloco. Sem sucesso, o Uruguai apelou ao Tribunal de Arbitragem do Mercosul, com o argumento de que os argentinos violaram o livre comércio ao bloquearem dois pontos de passagem na fronteira entre os dois países.

A integração plena de Venezuela ainda depende de negociações que devem durar cerca de quatro anos. Mas desde já este país participará das negociações internacionais do Mercosul. Tendo em vista o personalismo e o caudilhismo do presidente venezuelano Hugo Chávez, um ex-oficial golpista que conquistou pelo voto amplo domínio dos três poderes do Estado na Venezuela, isto pode dificultar ainda mais o processo de integração da América Latina.

"Chávez é um desagregador", observa o ex-embaixador brasileiro Marcos Azambuja.

Para avançar, o Mercosul precisa sair do personalismo político, das decisões tomadas por chefes de Estado, para se institucionalizar. Se o bloco tivesse criado uma legislação ambiental comum com exigências que protejam o meio ambiente em caso de instalação de papeleiras, a questão estaria resolvida. Se não serve para resolver os conflitos entre os países-membros, como faz a União Européia, não cumpre um dos objetivos fundamentais da integração regional.

Chávez subverteu as instituições venezuelanas. Ampliou o Supremo Tribunal de 20 para 32 juízes, enchendo-o de aliados e, nas últimas eleições legislativas, boicotadas pelo oposição, elegeu uma Assembléia Nacional só de aliados.

Depois da tentativa de golpe de 12 de abril de 2002, assumiu o controle das Forças Armadas. Com a greve da Petroleos de Venezuela, desde o início de 2003 domina amplamente a empresa estatal do petróleo, usando-a para financiar os programas sociais de sua "revolução bolivarista".

A não ser para a esquerda radical que acredita no "socialismo do século 21" pregado por Chávez, no seu antiamericnismo radical e em sua aliança com Cuba, o chavismo aponta mais para o passado caudilhista, populista e autoritário do que para o futuro da esquerda na América Latina.

Em outras condições, a entrada da Venezuela no Mercosul seria bem-vinda. Com Chávez, que ameaça convocar um plebiscito para ficar no poder até 2031, é uma temeridade. Não ajuda, por exemplo, as negociações com a União Européia.

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