A Jordânia emerge como aliada vital dos Estados Unidos na guerra contra o terrorismo. Desde os atentados de 9 de novembro passado contra hotéis de luxo em Amã, a monarquia jordaniana entrou com força total no combate ao jihadismo.
O general William Caldwell, porta-voz militar americano no Iraque, não quis comentar a participação jordaniana na morte de Abu Mussab al-Zarkawi, o terrorista mais procurado do Iraque. Cita o desmantelamento de uma célula terrorista em Iussufia em 6 de abril como fonte das informações que levaram à localização e morte do líder d’al Caeda no Iraque. Mas a participação jordaniana foi fundamental.
A cooperação dos países vizinhos é essencial para a pacificação do Iraque. O Irã tem uma grande influência sobre os xiitas iraquianos, que já defenderam o direito do país vizinho de desenvolver tecnologia nuclear para fins pacíficos. Se a crise entre EUA e Irã se agravar, o regime dos aiatolás pode usar a insurgência para travar uma guerra indireta com os americanos, prendendo-os no Iraque.
Da mesma forma, o Egito, a Arábia Saudita e a Jordânia tem influência sobre os sunitas iraquianos. Mas também não podem fazer muita coisa publicamente pelo governo George Walker Bush por causa do antiamericanismo reinante no Oriente Médio por causa da invasão do Iraque e do apoio incondicional dos EUA a Israel na questão palestina.
Desde quarta-feira, dia da morte de Zarkawi, altos funcionários dos EUA estão louvando a cooperação da Jordânia como um modelo para as operações globais antiterrorismo. Agentes jordanianos atuaram em conjunto com as forças da coalizão liderada pelos americanos na província rebelde de Anbar, a mais perigosa do Iraque, obtendo informações cruciais na caçada ao homem mais procurado do pais.
Os agentes jordanianos chamaram sua ação de Operação dos Mártires do Hotel, referência a um triplo atentado a bomba em novembro do ano passado contra hotéis de luxo de Amã, a capital do país, que a Jordânia encara como o seu 11 de setembro.
Esta foi apenas uma das ações d’al Caeda na sua guerra contra o Reino Hachemita da Jordânia e o rei Abdullah II, que consideram traidor do Islã por ser aliado dos EUA e ter feito um acordo de paz com Israel em 1994.
A Jordânia teme que os atentados abalem o turismo, uma de suas principais fontes de renda.
Zarkawi também tentou ampliar a insurgência iraquiana para a Jordânia e o Líbano, tentando criar novas bases para atacar Israel.
Desde os atentados de novembro, o rei Abdullah II ordenou uma campanha muito mais ampla e agressiva de combate ao fundamentalismo muçulmano, inclusive uma caçada a Zarkawi e seus comparsas. Em vez de ficar apenas na defensiva tentando impedir a entrada de jihadistas na Jordânia, o rei autorizou operações no exterior para rastrear e eventualmente aniquiliar inimigos mortais do regime.
O serviço secreto jordaniano estabeleceu contato com tribos da vizinha província de Anbar, aproveitando os laços lingüísticos, religiosos, culturais e tribais com os povos do Oeste do Iraque.
“A cooperação entre a Jordânia e os EUA é anterior a 11 de setembro de 2001”, afirma o embaixador jordaniano em Washington, Karim Kawar. “Mas certamente os ataques de 9 de novembro em Amã foram um marco na aceleração do processo de levar estas pessoas à Justiça”.
Nesta caçada desde novembro, dezenas de elementos d’al Caeda foram capturados. Cada prisão lançava mais luz na sombria rede terrorista tecida por Zarkawi. Talvez o mais importante tenha sido Ziad Khalaf Raja al-Karbouly, um funcionário da alfandega iraquiana que contrabandeava dinheiro, armas e munições através da fronteira.
Karbouly foi atraído para a Jordânia e preso. Interrogado, revelou a identidade do guia espiritual de Zarkawi, Abu Abdul Rahman. Os americanos seguiram então Rahman por algumas semanas até que ele os levasse ao principal líder terrorista do Iraque.
Sem a Jordânia, Al Caeda não teria sofrido este violento golpe no Iraque.
A família do terrorista pediu o corpo para enterrá-lo na Jordânia mas o governo jordaniano não tem a menor intenção de autorizar o sepultamento. Um alto funcionário da Jordânia disse na sexta-feira, 9 de junho, que seu governo jamais permitiria que o cadáver de Zarkawi “manchasse o solo jordaniano”.
Para os militares americanos, a preocupação agora é quem será o novo chefe d’al Caeda no Iraque. O general aponta Abu Ayub al-Masri como principal candidato.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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