O técnico Carlos Alberto Parreira declarou numa entrevista antes da Copa do Mundo que o futebol não tem maior influência política ou econômica. Mas o futebol é hoje em dia muito mais do que um esporte. É um grande negócio. Acima de tudo mexe com a emoção do mundo inteiro, move mercados, provoca guerras e paz, observa Frederick Kempe, ex-editor-chefe do The Wall St. Journal Europe.
Em 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, na trégua de Natal, soldados britânicos e alemães jogaram uma partida de futebol entre as trincheiras da Frente Ocidental. A Alemanha ganhou por 3 a 2 mas perdeu a guerra.
Na Segunda Guerra Mundial, quando os alemães invadiram a União Soviética e tomaram Kiev, a capital da Ucrânia, armaram uma série de jogos da Wehrmacht, o Exército nazista, contra um time local, formado basicamente por jogadores do Dínamo de Kiev. Depois de várias derrotas, os nazistas fuzilaram os adversários que os humilharam.
Houve até uma Guerra do Futebol, entre Honduras e El Salvador, com 2 mil mortos, em 1969, depois que os dois países se enfrentaram nas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970.
Na mesma época, um jogo do Santos de Pelé provocou uma trégua na guerra civil em Biafra.
Nesta Copa, a classificação da Costa do Marfim conseguiu unir os inimigos, ajudando a acabar com três anos de guerra civil. Mas os fundamentalistas muçulmanos que tomaram a capital da Somália cortaram a eletricidade para garantir que a população não veria o Copa do Mundo, considerada antiislâmica, chegando a dar tiros para o ar para dispersar a multidão que protestavam.
Para os analistas de mercado, uma nova pesquisa acadêmica indica que a eliminação da Copa do Mundo provoca uma queda de meio ponto percentual na bolsa de valores no dia seguinte. Vitórias e derrotas podem afetar o preço das ações por causa do sentimento nacional. Não mexem com os fundamentos da economia mas mexem com os mercados.
O futebol é também o esporte mais globalizado. Estima-se que mais de 1 bilhão assistiram à final da Copa de 2002, Brasil 2 x 0 Alemanha.
Entre os líderes politicos, talvez quem mais precise de uma vitória seja a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. Afinal, a vitória da Alemanha Ocidental na Copa de 1954 foi vista como um sinal da recuperação do país depois da Segunda Guerra Mundial. Em 1974, a segunda vitória alemã já pegou o país reconstruído e rico, líder da Comunidade Européia e terceira maior economia do mundo. O terceiro título, em 1990, ajudou a cimentar a reunificação da Alemanha, que ocorreria em 2 de outubro do mesmo ano.
Uma nova vitória consolidaria a popularidade de Merkel. Mas a seleção alemã é quase tão desacredita quanto a primeira-ministra.
Outro líder político que está em foco nesta Copa do Mundo é o presidente radical do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Como ele negou o Holocausto cometido pelos nazistas ao matarem 6 milhões de judeus na Segunda Guerra Mundial e prega a destruição de Israel, sua presença na Alemanha é repudiada. Traria embaraços diplomáticos.
Apesar de ser improvável que o Irã chegue à segunda fase depois da derrota de 3 a 1 para o México na estréia, os judeus alemães já se manifestaram contra sua possível visita. Mas os aiatolás da república islâmica têm mais razões para se preocupar com o futebol. Uma derrota por 3 a 1 para o Bahrein em 2001 nas eliminatórias para a Copa de 2002 provocou os maiores protestos de massa desde a revolução islâmica de 1979.
Além de visitar a concentração de sua seleção, Ahmadinejad suspendeu a proibição de que mulheres assistam a jogos de futebol no Irã para estimular o patriotismo gerado pela Copa do Mundo.
Já um estudo de Alex Edmans, do Instituto de Tecnologia de Mssachusetts (MIT), Diego Garcia, do Dartmouth College, e Oyvind Norli, da Escola Norueguesa de Administração, concluiu que derrotas na Copa do Mundo provocam uma queda significativa na bolsa de valores do país no dia seguinte, com maior impacto sobre as ações de pequenas empresas. As vitórias não teriam o mesmo impacto, a não ser quanto inesperadas. Caso contrário, os agentes de mercado já teriam embutido sua expectativa positiva nos preços.
Então, para ganhar dinheiro investindo durante a Copa, seria preciso escolher um país com grande tradição futebolística e ampla participação popular na bolsa de valores – e apostar na sua derrota.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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