Com a Bolsa de São Paulo desabando apesar dos bons fundamentos da economia brasileira, com inflação sob controle e saldo comercial confortável, é oportuna a observação feita ontem à noite pelo presidente do Banco da Inglaterra, Mervyn King. A inflação global está em alta, trazendo novos riscos e oportunidades. No caso britânico, podem pesar mais na inflação do que questões domésticas. No caso brasileiro, o maior desajuste está nos déficits e no peso da dívida do setor público, na falta de uma poupança interna no momento de fuga do capital estrangeiro para a qualidade.
"Há pressões inflacionárias na maioria das economias industriais", notou King, indicando que a era de taxas de juros extremamente baixas nos Estados Unidos e na Europa, e praticamente zero no Japão, está chegando ao fim. Estas taxas e o excesso de liquidez na economia internacional levaram muitos recursos aos países em desenvolvimento.
Agora, com a alta nas taxas de juros, há um refluxo do capital para seus países de origem, com forte impacto nos mercados financeiros dos países emergentes como Brasil, Argentina, México, Turquia, Índia e Rússia, num momento de forte alta nos preços do petróleo e de outros produtos importados.
"Mesmo na China, com sua base industrial em expansão e abundância de mão-de-obra, alguns indicadores mostram pressões para aumentar os preços de exportação", argumentou o presidente do Banco da Inglaterra. "Isto eleva os preços de nossas importações além dos aumentos resultantes dos maiores custos de energia", no ritmo de alta mais forte em mais de uma década.
O extraordinário crescimento econômico da China e a oferta de produtos industriais chineses a preços paixos têm sido fundamental para manter baixa a inflação global. Mas a China consome cada vez mais petróleo importado e não tem como ficar imune à alta nos preços da energia, embora sua taxa de inflação doméstica tenha sido de 1,4% ao ano em maio.
"Como para a Inglaterra na Copa do Mundo, as maiores ameaças vêm de fora", acrescentou King.
Ele atribuiu a atual queda nas bolsas de valores à valorização excessiva dos ativos combinada com o aperto da política monetária, o que gerou incertezas nos mercados financeiros.
Há quatro anos, numa entrevista coletiva do Banco da Inglaterra em que eu estava presente, King, na época vice-presidente, fez uma ironia para os jornalistas britânicos: "No mundo globalizado, nenhum país é uma ilha".
Se isto vale para a Grã-Bretanha, vale muito mais para o Brasil. O período à frente é de turbulência.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário