Talvez por ser um americano naturalizado americano, o ex-secretário de Estado Henry Kissinger, homem-forte da política externa dos Estados Unidos de 1969 a 1977, gosta muito de futebol. Em entrevista ao jornal The Wall St. Journal, ele tenta decifrar para seus compatriotas os segredos do esporte mais popular do planeta, que aparentemente só não é uma febre nos EUA.
Ao contrário dos esportes favoritos dos americanos como futebol americano, basquete e beisebol, cheios de interrupções em que os torcedores avaliam números e estatísticas, “o futebol é um drama sem trégua”, sem intervalos comerciais nem tempos para os técnicos reorganizarem suas equipes.
Kissinger considera fascinante como o futebol traduz em campo o caráter nacional de diferentes países, a alegria sem limites do Brasil e a determinação da Alemanha.
A entrevista foi feita enquanto o ex-secretário assistia a França 0 x 0 Suíça, observando que falta aos atacantes o instinto assassino dos matadores.
Para entender um jogo de futebol, ensina Kissinger, é preciso tirar o olho da bola e notar como os times se colocam e se movimentam em campo: “O futebol é um esporte que esconde uma grande complexidade atrás de uma aparência de simplicidade. Parece apenas 10 pessoas correndo atrás de uma bola. Mas elas são treinadas cientificamente para saber para onde se mover quando a bola está em jogo”.
Como bom torcedor, ele prefere os times ofensivos.
O ex-secretário vê três estilos básicos de jogar futebol mas ressalva que a globalização está homogeneizando-os.
Para o tradicional estilo britânico, baseado na força físico-atlética, o importante é jogar a bola longa e ganhar na corrida do adversário ou lançá-la sobre a área e tentar pular mais alto para fazer gols de cabeça.
O resto da Europa adotaria um estilo em que seis jogadores avançam trocando passes precisos enquanto quatro ficam sempre na defesa, podendo eventualmente trocar de função quando defensores atacam e atacantes descem para defender.
Seu estilo favorito naturalmente é o brasileiro: “Quando um time brasileiro está em boa forma, é como um balé dentro de campo. Há dois problemas com os brasileiros: um é que eles ficam tão enfeitiçados por suas danças e acrobacias que às vezes esquecem de chutar em gol. O outro problema é que com freqüência não têm bons goleiros. Minha explicação é que eles não gostam de ficar lá atrás sem participar da alegria.”
Kissinger teme que a globalização esteja “brutalizando” o futebol-arte do Brasil, talvez porque a maioria dos craques brasileiros hoje jogam na Europa. Com a importação de jogadores, os ingleses adotaram um estilo mais parecido com o do continente europeu. E os alemães, na opinião do ex-secretário, estão jogando num estilo mais alegre e espontâneo que contrasta com seu pessimismo histórico.
Ele também elogiou os argentinos, que “têm muitas das habilidades brasileiras mas são orientados implacavelmente para fazer gols e o que for necessário para vencer”.
Já “os franceses, embora ainda sejam elegantes, tornaram-se enfadonhos. Não têm o instinto assassino.
Uma observação final do ex-secretário é que os gols decisivos costumam ser marcados no final dos jogos, quando os times estão cansados.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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