domingo, 18 de junho de 2006

Fogo Amigo: perdendo amigos e fazendo inimigos no século antiamericano

Depois de um momento de euforia no início dos anos 90, com o fim da Guerra Fria e a recuperação da economia americana com a revolução da informática, a imagem dos Estados Unidos no mundo começou a se deteriorar, o que foi muito agravado pela invasão do Iraque. Este é o tema central de ‘Fogo Amigo: perdendo amigos e fazendo inimigos no século antiamericano’, de Julia Sweig, pesquisadora sênior de América Latina do Conselho de Relações Exteriores, de Nova Iorque.

Os EUA rejeitaram o Tribunal Penal Internacional, o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares e o Protocolo de Quioto, para controlar a emissão dos gases que provocam o aquecimento da Terra, e abandonaram o Tratado sobre Mísseis Antibalísticos. Receberam ampla solidariedade depois dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001. Mas perderam este crédito com a invasão do Iraque, em março de 2003, sem o consentimento do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Para se recuperar, recomenda Julia, a única superpotência respeitar os interesses de outros países em foros internacionais. Não tentar impor seus interesses mas colaborar na solução conjunta de problemas como comércio, efeito-estufa, direitos humanos e não-proliferação nuclear, e investir em diplomacia cultural para usar o poder suave, de persuasão, em vez da força militar. Ele entende que o país perde o crédito de confiança, o “benefício da dúvida”. Suas ações serão mais escrutinadas.

Em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, os EUA criaram as organizações internacionais que formaram a base da nova ordem mundial: as Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Era o que Henry Luce, fundador da revista Time, chamou de “século americano”.

Sessenta anos depois, o antiamericanismo tornou-se um fenômeno global.

Na opinião de Julia Sweig, o antiamericanismo nasceu na América Latina, que sempre esteve submetida à hegemonia dos EUA sobre o continente americano. Com a ascensão dos EUA à condição de superpotência a partir de 1945, o resto do mundo passou a experimentar aquilo que os latino-americanos já conheciam.

Durante a Guerra Fria, em nome do combate ao comunismo, os EUA apoiaram ditaduras militares no Terceiro Mundo, na América Latina, na África e na Ásia. Mas só depois do fim da Guerra Fria, e mais especificamente na reação aos atentados de 11 de setembro, os EUA começaram a ser vistos como um país que só se preocupa com seus próprios interesses.

“Se este antiamericanismo se consolidar em escala global”, adverte Julia, “vai minar a vontade política da comunidade internacional de dar aos EUA o benefício da dúvida”, prejudicando a cooperação internacional em iniciativas globais.

É importante “ter um pouco mais de humildade sobre temas como democracia e mudança de regime, que foram incorporados como a frente e o centro de nosso programa político”, alerta a pesquisadora do CRE. Os EUA “precisam apresentar alternativas sérias para os problemas que a comunidade internacional leva a sério”, do aquecimento da atmosfera ao comércio mundial.

Como apesar do antiamericanismo reinante, dezenas de milhões de pessoas sonham em ir para os EUA, ainda há valores que eles prezam na sociedade americana, mesmo que a pressão maior seja a falta de opções de vida digna nos países de origem em contraste com as oportunidades oferecidas pelo sonho americano.

Mas “quando as pesquisas perguntam onde se leva uma vida melhor como profissional de classe média, em comparação com a Alemanha, os países escandinavos, a China, a França e outros países desenvolvidos e em desenvolvimento, onde é melhor para começar a vida, os EUA ficam em quarto, quinto ou sexto lugar”, diz Julia.

Mesmo que os americanos saiam do Iraque e que o presidente George Walker Bush, extremamente impopular, seja substituído, restarão os problemas ligados ao poder dos EUA. “É muito mais profundo do que a personalidade de George W. Bush”, comenta Julia Sweig. “Não é só Bush nem só o Iraque.”

Além de uma abordagem multilaterialista das questões globais, acrescenta a pesquisadora, como “complemento da políticas substantivas que sejam vistas como lefítimas”, é preciso investir em “programas de intercâmbio, bibliotecas e na diplomacia cultural que recebiam tantos recursos durante a Guerra Fria e agora estão anêmicos”.

Outro problema sério foi “o fracasso ao não responsabilizar altos funcionários do governo em questões como os escândalos com presos e a tortura”, analisa Julia. Vai levar muito tempo para recuperar o que perdemos como resultado do que transpirou nas prisões de Abu Ghraib, Bagram e Guantânamo. Se fôssemos vistos como quem abraça definitivamente as Convenções de Genebra e pune os responsáveis, ajudaria muito a recuperar a confiança”.

Isto deveria incluir a demissão do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld: “Aparentemente ele pediu demissão várias vezes e o presidente não aceitou”.

Quanto à América Latina, Julia acredita que o comércio é importante mas os EUA deveriam ir além, colaborando na solução de problemas importantes da região como pobreza, desigualdade e segurança pública.

“Precisamos mostrar que podemos lidar com a esquerda”, aconselha a autora de Fogo Amigo. “Os latino-americanos elegeram diversos governos de centro-esquerda. A reação inicial de Washington foi histérica. Mas com a exceção de Hugo Chávez, o sinal que os EUA estão enviando é que estão dispostos a trabalhar com chefes de Estado de esquerda eleitos democraticamente.”

Os EUA gastaram US$ 20 bilhões nos últimos dez anos construindo muros e reforçando a segurança na fronteira para evitar a imigração ilegal, especialmente de latino-americanos. É outro problema sério nas relações com a América Latina que prejudica a imagem dos EUA.

Um comentário:

Anônimo disse...

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