Para localizar o homem mais caçado do Iraque, o terrorista jordaniano Abu Mussab al-Zarkawi, os americanos procuraram primeiro seu guia espiritual, conta o jornal The Washington Post ao descrever a operação passo a passo. Eles o seguiram durante semanas até serem levados ao esconderijo ao líder d’al Caeda no país ocupado pelos Estados Unidos, na quarta-feira passada, 7 de junho. Duas bombas de 227 quilos disparadas de um avião F-16 completaram o serviço.
Zarkawi ainda teria sobrevivido e estaria sendo socorrido em uma maca quando chegaram os soldados americanos e policiais iraquianos. Ele foi reconhecido pelo rosto, impressões digitais, tatuagens e cicatrizes.
O terrorista responsabilizado pelos ataques mais violentos em três anos de insurgência contra a invasão dos EUA estava fora de combate. Seu rosto havia se tornado a face mais visível de um terrorismo quase sempre invisível.
“Zarkawi não matará mais ninguém”, declarou o presidente George W. Bush no Jardim de Rosas da Casa Branca. “Ele queria derrotar os EUA e nossos aliados para transformar o Iraque num paraíso de terroristas de onde Al Caeda possa fazer sua guerra.”
Foi uma vitória importante no momento em que aumenta a violência no Iraque, a mais importante desde a captura do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein em dezembro de 2003. Ajuda a fortalecer o novo governo do primeiro-ministro Nuri al-Maliki, que descreve Zarkawi como um invasor estrangeiro. Esta morte foi festejada por árabes sunitas e xiitas, e pelos curdos.
“Hoje Zarkawi foi derrotado”, anunciou Maliki para aplauso da Assembléia Nacional, o parlamento unicameral do Iraque. “Esta é uma mensagem para todos aqueles que usam da violência, da morte e da destruição para perturbar a vida no Iraque: pensem duas vezes antes que seja tarde demais.”
Há menos de duas semanas, Zarkawi divulgara uma gravação pregando a morte dos xiitas, inclusive do grão-aiatolá Ali al-Sistani, o mais alto clérigo xiita do Iraque.
Havia um prêmio de US$ 25 milhões por informações que levassem a Zarkawi, a mesma quantia oferecida pelo líder máximo da rede terrorista, o saudita Ossama ben Laden.
Logo após a morte de Zarkawi, Al Caeda divulgou uma declaração pela Internet: “O que se abateu sobre nós hoje não afetará nossa determinação.” Para mostrar força, os homens-bomba atacaram três vezes em Bagdá no dia seguinte, quinta-feira passada, 8 de junho, matando pelo menos 25 pessoas.
A morte de Zarkawi é importante até por que, como revelou o jornal The New York Times neste domingo, ele criara várias bases de treinamento por onde teriam passado pelo menos 300 recrutas que voltaram a seus países de origem à espera de ordens para atacar.
Há anos a supersecreta Força-Tarefa 77 das Forças Especiais dos EUA estava caçando Zarkawi e seus comparsas. Quase pegou o terrorista várias vezes. A última foi em abril na cidade sulista de Iussufia.
No mês passado, o serviço secreto da Jordânia prendeu um dos homens da rede terrorista perto da fronteira com o Iraque. Ziad Khalaf al-Kerbouly era funcionário da alfândega iraquiana. Em declaração transmitida pela televisão jordaniana em 23 de maio, admitiu ter usado sua posição para ajudar Zarkawi a contrabandear dinheiro, armas e munições para a insurgência.
Sob interrogatório, Kerbouly revelou a identidade e os contatos do novo guia espiritual de Zarkawi, o xeque Abdel Rahman. Logo a Força-Tarefa 77 localizou o xeque e o seguiu durante semanas até saber que havia “alta probabilidade” de que ele encontraria Zarkawi na última quarta-feira.
Para os agentes secretos americanos, Rahman era mais do que um guia espiritual. Era o contato de Zarkawi com clérigos aliados que cooperavam no recrutamento, arrecadação de dinheiro e na propaganda para dar apoio popular à insurgência.
Ao contrário do líder espiritual anterior de Zarkawi, Abdullah Janabi, e do próprio líder máximo d’al Caeda, Ossama ben Laden, Rahman apoiava atentados contra os xiitas, que são a maioria da população do Iraque.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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