A 20 dias da eleição presidencial mexicana de 2 de julho, o ex-prefeito da Cidade do México Andrés Manuel López Obrador denuncia, em entrevista ao jornal espanhol El País, a manipulação das pesquisas para beneficiar o candidato da direita e do partido do governo, Felipe Calderón.
Enquanto as pesquisas divulgadas publicamente indicam um empate técnico entre os dois favoritos, o candidato de esquerda garante que pesquisas feitas para consumo interno de sua campanha lhe dão 37% das preferências contra menos de 30% para Calderón, do Partido de Ação Nacional do presidente Vicente Fox: “Isto me dá tranqüilidade”.
Mas num país onde o boxe é um dos esportes nacionais e o Partido Revolucionário Institucional costumava programar lutas de boxe para atrair gente para seus comícios, López Obrador, de 53 anos, não baixa a guarda. Nos próximos 15 dias, vai visitar os 32 estados mexicanos.
Entre suas prioridades, o ex-prefeito da Cidade do México cita, “primeiro, reduzir o custo do governo. Isto significa pôr em prática um plano de austeridade reduzindo salários para liberar fundos. Em segundo lugar, impulsionaríamos uma série de programa de desenvolvimento social. Em terceiro lugar, poria em marcha projetos produtivos no campo, fomentar o turismo, incentivar obras de infra-estrutura e começar a modernizar o setor energético”.
Estes programas seriam financiados com a poupança pública obtida com a redução do custo do governo, especialmente dos salários dos altos funcionários, que López Obrador calcula em US$ 8 bilhões no primeiro ano: “O presidente do México ganha três vezes do que o primeiro-ministro da Espanha. O ministro da Fazenda ganha o dobro do primeiro-ministro espanhol. Se passarem a ganhar o mesmo que o chefe do governo espanhol, não há razão para uma fuga de cérebros.”
Seriam 5% do orçamento federal mexicano. López Obrador promete ainda combater a corrupção “não permitindo que se façam negócios de cima para baixo. A corrupção sempre vem de cima”.
Mesmo admitindo que houve corrupção em seu governo na Prefeitura da Cidade do México, o candidato esquerdista nega que fosse uma corrupção sistêmica: “O governo do Distrito Federal não estava organizado para a corrupção. O que acontece no México é que o governo está organizado para saquear” o dinheiro público.
Seu Partido da Revolução Democrática (PRD), formado por dissidentes da esquerda do PRI e o antigo partido comunista, deve ser apenas o terceiro maior no futuro Congresso. Terá menos deputados do que o PRI ou o PAN. Mas López Obrador não pensa em negociar os outros partidos: “Convidarei a sociedade civil mas não acredito numa aliança com partidos para governo. No Congresso, nos entendermos.”
López Obrador fala como presidente eleito e rejeita paralelos com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que o apóia. Afinal, o apoio de Chávez foi o beijo da morte para o candidato da esquerda peruana, Ollanta Humala, no segundo turno contra o ex-presidente Alan García, em 4 de junho.
Quanto às relações com os EUA, López Obrador diz que “não há problema algum com o governo dos EUA. Eles respeitam os assuntos internos do México. Tratarei de convencê-los que a melhor relação entre uma economia forte e outra frágil é a cooperação para o desenvolvimento. A questão migratória não se resolve com muros nem com a militarização da fronteira”.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário