Mais de 13 milhões de documentos mostram como parte da elite mundial escondeu US$ 350 bilhões em 19 paraísos fiscais, inclusive a rainha da Inglaterra, grandes empresas, um ministro e assessores do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Os documentos foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e examinados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e estão sendo divulgados por 95 meios de comunicação, entre eles o jornal britânico The Guardian e o francês Le Monde.
A rainha tem o equivalente a US$ 13 milhões investidos nas Ilhas Cayman. Hoje de manhã, o Palácio de Buckingham se apressou em esclarecer que o dinheiro de Sua Majestade é administrado pelo Ducado de Lancaster e negou que Elizabeth II seja beneficiária de evasão fiscal.
Durante a campanha eleitoral de 2016, Trump prometeu "trazer de volta trilhões de dólares que as empresas americanas mantêm no exterior". Um ano depois de sua vitória, revela-se que vários dos milionários de sua assessoria guardam parte de suas fortunas no exterior ou ajudam seus clientes e empresas a fazer depósitos em paraísos fiscais.
A descoberta mais grave é a sociedade de uma empresa de transporte marítimo chamada Navigator, do secretário do Tesouro, Wilbur Ross, que em 2014 recebeu US$ 68 milhões da companhia de gás russa Sibur. Ross não revelou essa ligação com a Rússia como teria obrigação de fazer.
Um dos proprietários da Sibur empresa é Kiril Chamalov, casado com Katherina Tikhonova, filha do presidente Vladimir Putin, acusado de apoiar a candidatura Donald Trump com uma guerra cibernética contra a candidatura Hillary Clinton.
Apesar das sanções impostas pelos EUA e a União Europeia à Rússia em 2014 por causa da anexação da Península da Crimeia, a Navigator ampliou sua relações com a Sibur. O Congresso e o procurador especial Robert Mueller investigam um possível conluio da campanha de Trump com o Kremlin para derrotar Hillary.
Duas instituições estatais russas ligadas a Putin usaram um sócio de Jared Kushner, genro de Trump, para investir US$ 1,2 bilhão no Facebook e no Twitter, onde os serviços secretos russos criaram 470 contas com identidades falsas e publicaram 3 mil mensagens para manipular as eleições nos EUA.
O chefe da assessoria econômica da Casa Branca, Gary Cohn, principal responsável pela proposta de cortes de impostos que favorece sobretudo os ricos e as grandes empresas, foi presidente ou vice-presidente de 22 empresas offshore situadas nas ilhas Bermudas durante 2002 e 2006, quando era executivo do banco de investimentos Goldman Sachs.
As empresas, especializadas em mercado imobiliário tinham sede na ilha e um endereço em Nova York, 85 Broad Street, onde até 2009 era o quartel-general do Goldman Sachs.
O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, dirigiu a Marib Upstream Services Company, uma empresa ligada à transnacional americana ExxonMobil criada nas ilhas Bermudas em 1997 para explorar gás e petróleo no Iêmen, antes de virar diretor-presidente da Exxon.
Em relatório publicado no ano passado, o grupo de ativistas Cidadãos por Justiça Fiscal denunciou que a ExxonMobil tem pelo menos 35 subsidiárias em paraísos fiscais como as Bahamas, Bermudas e Cayman. Elas tinham pelo menos US$ 51 bilhões quando Tillerson chefiava a empresa.
Como banqueiro na Wall Street, o centro financeiro de Nova York, o agora secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, criou esquemas financeiros para permitir que clientes ricos comprassem jatinhos de luxo sem pagar impostos.
Um documento vazado em outubro de 2015 revela que o CIT Bank usou uma companhia da Ilha do Homem, um paraíso fiscal nas Ilhas Britânicas, para pagar uma prestação de US$ 431 mil pela compra de um avião Dassault Falcon 2000EX de US$ 30 milhões.
O dono da empresa é Shaher Abdulhak Besher, aliado do ex-ditador iemenita Ali Abdullah Saleh, um dos principais responsáveis pela guerra civil no país mais pobre do Oriente Médio. Seu filho, Farouk Abdulhak, é suspeito de estuprar e matar uma jovem de 23 anos em Londres.
Já o novo embaixador americano em Moscou, o ex-governador de Utah Jon Huntsman é apontado como diretor da HICI International Sales Corporation, fundada em 1969 em Barbados para realizar vendas internacionais para a Huntsman ICI, a indústria química da Huntsman Corporation. Em 2000, esta empresa faturou US$ 4,4 bilhões e lucrou US$ 151 milhões.
Até o primeiro-ministro liberal do Canadá, Justin Trudeau, uma das jovens promessas de liderança internacional, ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, foi atingido. Seu principal arrecadador de campanha, Stephen Bronfman, herdeiro da destilaria Seagram, operava uma rede de empresas que circulava milhões de dólares entre os EUA, Israel e as Ilhas Cayman para não pagar impostos.
No Brasil, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tem um truste nas Bermudas, mas está declarado à Receita Federal. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, grande pecuarista, é sócio de uma empresa nas Ilhas Cayman para pagar menos impostos sobre suas exportações.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 6 de novembro de 2017
Papéis do Paraíso revelam riqueza escondida da elite mundial
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