sábado, 4 de novembro de 2017

Primeiro-ministro do Líbano renuncia após "tentativa de assassinato"

Numa surpresa que agrava a tensão no Líbano, o primeiro-ministro Saad Hariri pediu demissão hoje durante visita à Arábia Saudita, depois de uma "tentativa de assassinato" que atribuiu ao Irã e à milícia extremista muçulmana xiita Hesbolá (Partido de Deus).

De acordo com a televisão saudita Al-Arabiya, Hariri foi alvo de uma tentativa de assassinato há poucos dias em Beirute. Em pronunciamento pela televisão feito em Riade, a capital saudita, ele atacou a República Islâmica e sua milícia aliada, e ameaçou "cortar os braços do Irã na região".

"O mal que o Irã espalha na região vai se voltar contra ele", disparou o primeiro-ministro demissionário, acusando Teerã de disseminar o caos, a violência e a destruição no Oriente Médio.

Ele é filho do ex-primeiro-ministro Rafik Harari, assassinado em 14 de fevereiro de 2005 com carro-bomba que matou outras 21 pessoas. Foi o pior atentado terrorista no Líbano desde o fim da Guerra Civil (1975-90), atribuído aos serviços secretos da Síria com a participação do Hesbolá.

Na época, sob grande pressão internacional, o Exército da Síria se retirou do Líbano, onde intervinha militarmente desde 1976, no início da guerra civil entre cristãos e muçulmanos. Vários membros do Hesbolá estão sendo julgados à revelia por um tribunal das Nações Unidas, em Haia, na Holanda, pela morte de Rafik Hariri.

Saad Hariri foi primeiro-ministro de 9 de novembro de 2009 a 13 de junho de 2011. Voltou à chefia do governo do Líbano em 18 de dezembro do ano passado, num governo de união nacional de 30 ministros de que o Hesbolá participa.

O objetivo central do governo de união nacional era evitar o contágio da guerra civil na Síria, onde o ditador alauíta (um ramo do xiismo) Bachar Assad, com o apoio da Rússia, do Irã e de milícias xiitas como o Hesbolá, e o apoio político das minorias sírias, enfrenta grupos rebeldes da maioria sunita sustentados pela Arábia Saudita, o Catar, os Emirados Árabes Unidos e a Turquia.

É uma divisão que se reproduz no Líbano dentro da disputa maior pela liderança no Oriente Médio entre a Arábia Saudita, sunita, uma monarquia absolutista, pátria do islamismo, e o Irã, xiita, republicano e pioneiro da "revolução islâmica".

Hariri acusou o Hesbolá de colocar o Líbano "no olho da tempestade" com sua intervenção na guerra civil da Síria: "Nos últimos anos, o Hesbolá conseguiu impor uma situação política apontando suas armas para o peito dos libaneses e sírios", acusou.

"Declaro minha renuncia ao cargo de primeiro-ministro do governo do Líbano, com a certeza de que a vontade do povo libanês é forte", anunciou Hariri. "Quando assumi o cargo, prometi procurar unir o Líbano e acabar com a divisão política... mas fui incapaz de fazer isso. Apesar de meus esforços, o Irã continua abusando do Líbano."

O presidente Michel Aoun, um veterano cristão da Guerra Civil hoje aliado ao Hesbolá, deve pedir a Hariri que fique no cargo até a formação de um novo governo. Pela Constituição de 1943, quando o Líbano se tornou independente da França, o presidente deve ser cristão, o primeiro-ministro muçulmano sunita e o presidente do Parlamento muçulmano xiita.

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