Durante a campanha eleitoral, o candidato Donald Trump acusou a China de manipular o câmbio e cometer o "maior roubo da história". Ameaçou impor tarifas de importação de 45% sobre produtos chineses para reduzir o déficit comercial entre os dois países, que ano passado foi de US$ 347 bilhões.
Hoje, em sua primeira visita oficial à China, o leão encolheu a juba e virou um cordeirinho. Para agradar aos chineses, o atual presidente responsabilizou os governos anteriores dos Estados Unidos, informou a televisão americana CNN.
"Não culpo os chineses", afirmou Trump no Grande Salão do Povo, a sede do Congresso Nacional do Povo, em Beijim, "Afinal de contas, quem pode culpar um país por levar vantagem sobre outro país para beneficiar seus cidadãos. Dou um grande crédito à China."
A culpa é de seus antecessores: "Na verdade, culpo os governos passados por deixarem este déficit sem controle se estabelecer e crescer. Temos de mudar isso porque é ruim para as empresas e os trabalhadores americanos. É insustentável."
Trump adotou um tom conciliador no momento em que depende da China para tentar desnuclearizar a Coreia do Norte. Na recepção, fez rasgados elogios à China e a seu presidente, Xi Jinping. Autoritário, Trump tem uma empatia com homens-fortes e ditadores, personalidades que concentram grande poder o seduzem.
As duas maiores economias do mundo anunciaram negócios da ordem de US$ 250 bilhões. Muitos estão em projeto. Talvez nunca saiam do papel. Mas os EUA e a China fazem questão de apresentar seu encontro de cúpula como uma reunião dos mestres do Universo.
Com a Europa acossada pelo avanço da extrema direita, a lenta recuperação econômica e a saída do Reino Unido, há o risco de que as grandes decisões internacionais sejam tomadas por um Grupo dos Dois (G-2), os países mais importantes hoje do mundo. De suas boas relações depende a transição hegemônica, com a ascensão da China e o declínio relativo dos EUA e do Ocidente.
Na reunião de cúpula do fórum Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC), no Vietnã, próxima escala da viagem de Trump pela região, o presidente deve defender os princípios da liberdade e da democracia na região do Indo-Pacífico.
É o novo conceito geopolítico dos EUA para alistar a Índia na luta contra o autoritarismo que cresce com a ascensão da China.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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