Durante visita ao Japão, principal aliado dos Estados Unidos na Ásia, o presidente Donald Trump recomendou ao primeiro-ministro Shinzo Abe que compre armas americanas para defender o país da ameaça da Coreia do Norte.
Com sua visão mercantilista da economia internacional, ao reclamar do déficit comercial de US$ 71 bilhões no comércio bilateral, Trump acusou o comércio entre os dois países de "não ser livre, nem justo, nem recíproco".
Trump já criticou o "país dos samurais" por não derrubar os mísseis norte-coreanos que sobrevoaram seu território em testes recentes. Agora, foi claro ao pressionar o líder japonês a comprar armas para reduzir o saldo comercial: "Ele vai atirar nesses mísseis quando completar a compra de um monte de equipamento militar adicional dos EUA", declarou Trump ao lado de Abe no Palácio de Akasaka.
"O primeiro-ministro vai comprar quantidades maciças de equipamento militar dos EUA", repetiu o presidente. "Será um monte de empregos para nós e um monte de segurança para o Japão."
Em Tóquio, ele evitou declarações inflamatórias sobre a Coreia do Norte, mas defendeu o tiroteio verbal com o ditador Kim Jong Un: "Algumas pessoas consideram meu discurso muito forte, mas vejam o que aconteceu nos últimos 25 anos com um discurso fraco. Vejam onde estamos hoje."
O presidente esteve com o imperador Akihito e com parentes de japoneses sequestrados pela ditadura comunista da Coreia do Norte nos anos 1970s e estão desaparecidos até hoje.
Do Japão, o presidente dos EUA segue para a Coreia do Sul, onde é extremamente impopular porque suas políticas aumentam o risco de uma nova guerra da Coreia e ele ainda ameaça romper o acordo comercial entre os dois países.
Na campanha, Trump cobrou uma participação maior dos aliados na sua própria defesa. Desde a Segunda Guerra Mundial, as Forças de Defesa do Japão só podem atuar na segurança interna, dentro de seu território. Desde 1952, com o fim da ocupação, os EUA se comprometem a manter a segurança japonesa.
Ao sugerir que o Japão deve comprar sistemas de defesa antimísseis para derrubar os mísseis da Coreia do Norte, o presidente sugere que os EUA não vão defender seus aliados na Ásia de um possível ataque do regime comunista de Pionguiangue.
Com seu estilo de homem de negócios que faz declarações ambíguas para semear a dúvida e a incerteza de modo a enfraquecer a outra parte, Trump coloca em risco as alianças dos EUA na Ásia. Se os EUA não se dispuserem a defender o Japão e a Coreia do Sul, a grande vencedora será a Coreia do Norte.
Por outro lado, se o Japão revisar a Constituição pacifista de 1947 para autorizar a projeção do poderio militar no exterior, deve desenvolver armas nucleares, assim como a Coreia do Sul. Uma corrida armamentista nuclear na sua fronteira é o que menos interessa à China.
Na quarta-feira, Trump chega a Beijim, quando vai se medir com o ditador Xi Jinping, que acaba de consolidar o poder no Partido Comunista e anunciou a liderança internacional da China para criar uma "nova era".
Enquanto os EUA hostilizam aliados e rompem acordos comerciais, a China de Xi se apresenta como defensora do livre comércio, embora siga um modelo mercantilista, com forte controle do Estado sobre a economia.
Trump vai voltar a pressionar a China a forçar a Coreia do Norte a abandonar seu programa nuclear e reclamar do déficit comercial americano no comércio bilateral, de US$ 347 bilhões em 2016 e de US$ 274 bilhões de janeiro a setembro de 2017.
A negociação comercial com a China vai revelar o estilo de negociação internacional do governo Trump.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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