Durante a campanha eleitoral do ano passado nos Estados Unidos, Donald Trump Jr., filho do atual presidente, trocou mensagens de correio eletrônico com a empresa especializada em vazamentos na Internet WikiLeaks, que divulgou mensagens pirateadas provavelmente pelos serviços secretos da Rússia, revelou ontem a revista The Atlantic.
Em 20 de setembro de 2016, o WikiLeaks avisou o filho do então candidato Donald Trump sobre o lançamento de um novo sítio na Internet sobre o relacionamento de seu pai com o presidente russo, Vladimir Putin.
"Um comitê de ação política anti-Trump está para lançar um sítio chamado putintrump.org", alertou o WikiLeaks. O sítio de vazamentos criado pelo anarquista australiano Julian Assange alega denunciar abusos de poder de governos e empregos, mas decidiu se associar ao Kremlin e a Putin, que combatem sistematicamente a democracia ocidental.
O WikiLeaks acrescentou ter "adivinhado a senha" do sítio contra Trump e perguntou se Trump Jr. tinha algo a dizer a respeito. No dia seguinte, o filho do presidente prometeu investigar que grupo estaria por trás da jogada.
A mensagem do WikiLeaks foi repassada a altos dirigentes da campanha de Trump, como o então chefe da campanha, Steve Bannon; a gerente e chefe da comunicação social, Kellyanne Conway; o assessor e genro de Trump, Jared Kushner; e o diretor digital, Brad Parscale.
"Vocês conhecem as pessoas mencionadas e o que pode ser esta conspiração?", perguntou Trump Jr.
As mensagens fazem parte de uma série de documentos entregues pelos advogados de Trump Jr. à comissão do Congresso dos EUA que investiga um possível conluio da campanha de Trump com o Kremlin.
Trump chama a investigação de uma "caça às bruxas". Depois de um encontro com Putin durante a reunião de cúpula do fórum Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC), na semana passada, no Vietnã, o presidente americano voltou a dizer que acreditava na alegação do líder russo de que não houve interferência nenhuma.
No dia seguinte, Trump mudou de ideia. Sob a orientação de assessores, voltou a agir como presidente. Concordou com os serviços secretos dos EUA, que viram interferência da Rússia e investigam se houve conivência da campanha de Trump.
Antes disso, o verdadeiro Trump desabafou no Twitter: "Quando todos os odiosos e tolos lá fora vão perceber que ter um bom relacionamento com a Rússia é coisa boa, não ruim. Estão sempre fazendo um jogo político - ruim para o país. Quero resolver problemas como Coreia do Norte, Síria, Ucrânia, terrorismo, e a Rússia pode ajudar muito!"
Como de costume, Trump revela um otimismo vazio e grande ignorância das questões internacionais. Se a Rússia interveio militarmente na Ucrânia, anexou ilegalmente a península na Crimeia e iniciou uma guerra civil no Leste do país, certamente não é a solução.
Da Coreia do Norte, que era aliada da União Soviética, a Rússia se reaproximou recentemente para ajudar a sustentar o regime. Faz parte da estratégia de Putin de lutar contra a democracia e tentar erodir o poder dos EUA.
Na Síria, a Rússia apoia a ditadura de Bachar Assad e o Irã, enquanto Trump tenta isolar o regime dos aiatolás junto com a Arábia Saudita. No terrorismo, os dois países têm um inimigo comum.
Hoje, a chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, fez um duro ataque à guerra cibernética da Rússia contra as democracias ocidentais. A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, denunciou a divulgação de notícias falsas por meios de comunicação teleguiados pelo Kremin, como a televisão Rússia Today e a agência de notícias Sputnik.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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