Seis dias depois do golpe militar que o tirou do poder depois de 37 anos, o ditador Robert Mugabe, de 93 anos, cedeu à pressão das Forças Armadas e do partido do governo e renunciou hoje à Presidência do Zimbábue, noticiou a televisão pública britânica BBC.
Em seu lugar, assume o vice-presidente Emmerson Mnangagwa, o Crocodilo, que há duas semanas o velho ditador tentou trocar por sua mulher, Grace Mugabe.
É o fim melancólico de um herói da independência que virou um ditador, exerceu o poder com crueldade e arrasou a economia, levando o país conhecido como celeiro da África a uma inflação de 500 bilhões por cento ao ano e à miséria generalizada ao armar gangues para tomar à força as propriedades dos brancos.
Na prática, foi um desfecho para a luta pelo poder em torno da sucessão de Mugabe dentro do partido dominante, a União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Popular (ZANU-PF). Mnangagwa teve o apoio decisivo do comandante das Forças Armadas, general Constantino Chiwenga, o homem-forte por trás do trono.
O golpe de 15 de novembro consolidou o poder do grupo dominante no ZANU-PF e afastou os aliados de Grace Mugabe. O ditador foi poupado como uma figura histórica. Em prisão domiciliar, Mugabe recebeu a visita dos generais.
No domingo, o partido tirou o herói da independência da liderança e expulsou sua mulher. Havia a expectativa de que Mugabe anunciaria a renúncia em pronunciamento em rede nacional de televisão. Ele não renunciou e deu a entender que participaria do próximo congresso do partido.
Para aumentar a pressão, os militares e aliados do regime mobilizaram a população, que saiu às ruas para pedir a queda do odiado Mugabe. Semanas antes, a multidão teria sido metralhada pelo Exército.
Diante da resistência do ditador, o ZANU-PF iniciou a abertura de um processo de impeachment. Um grande guerreiro não se entrega. Provavelmente Mugabe sonhasse em morrer no poder. A tentativa de indicar a mulher como sucessora e o afastamento do vice-presidente foram os últimos abusos de poder.
A dúvida agora é se a massa mobilizada para afastar o ditador vai voltar para casa ou vai aderir à campanha da oposição, surpreendida pelo golpe, por eleições antecipadas. Um memorando interno do Departamento de Estado americano vazado anos atrás pelo sítio de pirataria cibernética WikiLeaks expressava o temor de que Mnangagwa fosse ainda mais repressivo do que Mugabe.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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