A Duma do Estado, a câmara baixa do Parlamento da Rússia, aprovou hoje um projeto para enquadrar correspondentes internacionais e empresas de mídia que receberem dinheiro de fora como "agentes estrangeiros", noticiou o jornal britânico Financial Times.
É uma resposta à decisão dos Estados Unidos, que exigiram que televisão oficial do Kremlin Russia Today (RT) seja registrada como "agente estrangeiro" por fazer mais propaganda do que jornalismo.
O projeto pode virar lei ainda nesta semana. Dará ao Ministério da Justiça o direito de banir qualquer meio de comunicação que receba dinheiro do exterior. Os principais alvos seriam a rede de televisão americana CNN, a rádio Voz da Alemanha e a Rádio Europa Livre, criada pelos EUA durante a Guerra Fria para combater a propaganda da União Soviética.
Para a presidente do Conselho da Federação, a câmara alta do Parlamento, nomeada diretamente pelo Kremlin, Valentina Matvienko, foi uma reação necessária à "máquina de propaganda do governo americano, que começou a perseguir a mídia russa".
A mídia é um elemento central nas investigações nos Estados Unidos sobre um possível conluio entre o Kremlin e a campanha de Trump para prejudicar sua adversária, a candidata democrata, Hillary Clinton, que adotaria posições muito mais duras em relação à Rússia.
No mês passado, sob pressão do Departamento da Justiça, o Twitter proibiu a RT e sua agência de notícias Sputnik de anunciarem. Mais de 279 mil mensagens atribuídas a agentes russos foram divulgadas pelas mídias sociais como se fossem de americanos conservadores a favor da eleição de Trump e mais tarde foram apagadas.
A medida dos EUA se aplica apenas à empresa responsável pela produção da RT nos EUA, que tem somente um empregado, Mikhail Solodovnikov, com salário mensal de US$ 56 mil. Ontem, ele alegou não saber quem controla a RT.
Embora se apresente como um meio de comunicação independente, a RT é totalmente financiada pelo Kremlin, com um orçamento de US$ 311 milhões para 2017. A produtora nos EUA tinha US$ 6,6 milhões para gastar em agosto e setembro.
A editora-chefe da RT e da Sputnik, Margarita Simonyan, afirmou que seus funcionários estão pedindo demissão "em massa" por causa da pressão e alegou que apenas dá voz a quem é ignorado pela mídia americana. Mas sua mesa tem uma linha telefônica direta com o Kremlin.
Ontem, a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, acusou a Rússia de "procurar transformar a informação em arma com suas organizações de mídia estatais para plantar notícias falsas e imagens manipuladas numa tentativa de semear a discórdia no Ocidente e de minar nossas instituições." A RT reagiu publicando uma foto de May no Twitter com grandes letras vermelhas sobrepostas dizendo "notícia falsa".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
terça-feira, 14 de novembro de 2017
Rússia adota novas medidas contra mídia internacional
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