quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Assassinos da ditadura militar pegam prisão perpétua na Argentina

O Tribunal Federal Oral da Argentina condenou há dois dias à prisão perpétua por "crimes contra a humanidade" 29 acusados por sequestros, torturas, assassinatos e os "voos de morte" durante a última ditadura militar (1976-83) a desgraçar o país, entre eles os capitães Alfredo Astiz, o Anjo da Morte, e Jorge Tigre Acosta, noticiaram os jornais Clarín e La Nación.

Foi o terceiro grande processo sobre os crimes cometidos na Escola Superior de Mecânica da Armada (ESMA), a academia militar da Marinha argentina, que se tornou no principal centro de detenção, tortura e desaparecimento de presos políticos durante a guerra suja contra a esquerda. E o mais importante julgamento sobre direitos humanos na Argentina desde a condenação, há 32 anos, das juntas militares que desgovernaram o país de 1976 a 1982 e caíram com a derrota na Guerra das Malvinas.

No processo conhecido como ESMA III ou ESMA unificada, iniciado em 2012, 68 réus foram denunciados por crimes cometidos contra 789 pessoas; 14 morreram neste últimos cinco anos. Além dos 29 condenados à prisão perpétua, seis foram absolvidos e 19 pegaram de 8 a 25 anos de reclusão.

Durante a leitura da sentença, o tribunal situado no bairro do Retiro, no centro histórico de Buenos Aires, ficou dividido entre parentes das vítimas e defensores dos direitos humanos, de um lado, e partidários da ditadura, do outro, cantando o hino argentino e ofendendo jornalistas e ativistas.

O juiz David Obligado pediu aos manifestantes que baixassem faixas e cartas. Chegou a ameaçar evacuar a sala. Eram tantos os delitos que a leitura da sentença levou cinco horas. Só foram lidos os nomes dos réus, as acusações e os vereditos. As razões dos três desembargadores serão apresentadas noutro dia.

Mais de 5 mil presos políticos passaram pela ESMA e apenas centenas saíram com vida. Muitos foram drogados e jogados no mar nos sinistros voos da morte. Entre os sentenciados a passar a vida na cadeia, está o ex-piloto Mario Arru, responsável por alguns daqueles voos. Sua condenação foi das mais festejadas.

Arru estava no voo que jogou no Rio da Prata os sequestrados na Igreja de Santa Cruz, em que estavam a primeira presidente da organização das Mães da Praça de Maio, Azucena Villaflor, e as freiras francesas Alice Dumont e Leonis Duquet. Causou indignação a absolvição de Julio Poch, que morava na Holanda e foi extraditado depois de se gabar de ter participado dos voos da morte.

Talvez a figura mais odiada internacionalmente seja o capitão Alfredo Astiz, mais conhecido como Anjo da Morte, porque era jovem, louro e bonito na época da ditadura. Ele fico tristemente famoso por ter matado com um tiro pelas costas uma jovem sueca-argentina de apenas 17 anos, Dagmar Hagelin. Também foi acusado, entre muitos outros crimes, pelo sequestro e morte das freiras argentinas.

Durante a Guerra das Malvinas (1982), Astiz foi nomeado governador das Ilhas Geórgias do Sul, e se rendeu aos britânicos sem disparar um tiro. Preso, teve pedidos de extradição feitos pela França e a Suécia, mas a primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher o entregou à ditadura militar argentina. Amiga do ditador chileno Augusto Pinochet, Thatcher era conivente com caçadores de comunistas.

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