Depois de dois dias de reunião de cúpula da União Europeia, o primeiro-ministro David Cameron anunciou há pouco um acordo para o manter o Reino Unido no bloco comercial sem a obrigação de cumprir algumas cláusulas sociais. Cameron deve anunciar em breve um referendo para o eleitorado britânico decidir.
O primeiro-ministro explicou que o Reino Unido rejeita o princípio de "uma união cada vez maior, nunca vai aderir à moeda comum europeia [euro], nem participar de um superestado europeu, nem do acordo de fronteiras abertas, nem de um Exército europeu."
Se o acordo for aprovado pelos outros 27 países da UE e no referendo no Reino Unido, os cidadãos europeus que se mudarem para o país terão de esperar quatro anos para ter direito aos benefícios sociais. Os britânicos conservadores e eurocéticos acusam europeus de outros países de abusarem do salário-desemprego, do sistema de saúde e de outras garantias sociais.
Ao ficar no bloco, argumentou Cameron, o Reino Unido garantiu o direito de não ser discriminado por decisões econômicas do Grupo do Euro e de não participar de programas de resgate financeiro de países da Zona do Euro em crise, mas vai participar das decisões que lhe interessam no maior mercado do mundo, com mais de 500 milhões de pessoas.
A renegociação das relações com a Europa faz parte de uma jogada de Cameron para pacificar o Partido Conservador britânico em relação à UE. Boa parte do partido é eurocética. Gostaria de deixar o bloco. A questão é fruto de uma guerra interna do partido desde a queda da primeira-ministra Margaret Thatcher, em 1990.
Para acabar com a guerra interna, Cameron prometeu que, se fosse reeleito no ano passado, convocaria até 2017 um referendo para o eleitorado britânico decidir de uma vez por todas se deseja permanecer na UE.
Hoje a Europa fez sua proposta. O Reino Unido é a segunda maior economia do continente. A UE ficaria mais frágil.
Por outro lado, a economia britânica poderia encolher em até 20% fora da UE. Para negociar com o mercado comum europeu, seria obrigada a cumprir todas as suas exigências sem participar da tomada de decisões. E a Escócia, onde os nacionalistas querem convocar novo plebiscito sobre a independência, provavelmente sairia da Grã-Bretanha para ficar na Europa.
Até um novo partido surgiu da extrema direita surgiu para defender o divórcio com a UE. O Partido da Independência do Reino Unido (UKIP, em inglês) foi o mais votado, com 26,6% dos votos, nas eleições de 2014 para o Parlamento Europeu. Em 2015, foi o terceiro mais votado, com 12,6%, mas só elegeu um deputado na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico.
No momento, as pesquisas apontam uma ligeira vantagem para a permanência na UE. As próximas vão medir o impacto do acordo anunciado hoje. A imprensa conservadora eurocética britânica, especialmente o grupo de mídia do empresário australiano-americano Rupert Murdoch, deve fazer campanha contra.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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