Depois de bombardeios contra cinco hospitais e clínicas ontem em áreas dominadas por rebeldes, a organização não governamental Médicos sem Fronteiras acusou a Força Aérea da Rússia e a ditadura de Bachar Assad de atacar "deliberadamente" 17 clínicas, hospitais e postos de saúde na Síria, informou o jornal francês Le Monde.
Os MsF denunciam a Rússia por "crimes de guerra" ao usar a mesma política de terra arrasada adotada pelo presidente Vladimir Putin na Guerra da Chechênia, uma república rebelde da Federação Russa, inclusive bombardeios a hospitais e centros de saúde. O hospital da ONG em Marat al-Numan foi visado pela terceira vez desde o início da guerra civil, há quase cinco anos.
"São zonas controladas pela oposição", observou o presidente dos MsF, Mego Terzian. "Seria ilógico se bombardeassem um hospital que serve sua população Claramente, os quatro foguetes foram disparados pela coalizão do governo de Damasco. Foi deliberado, com certeza, porque quatro foguetes caíram em poucos minutos no mesmo alvo, o prédio do hospital. Não pode ter sido um erro ou acidente."
Desde o início da intervenção militar da Rússia em defesa da ditadura de Bachar Assad, em 30 de setembro de 2015, os ataques a hospitais e clínicas aumentaram, acrescentou Terzian: "Eles usam a mesma política de destruição de Grozny, na Chechênia, uma política de bombardeios maciços sem discriminação. É uma política de terra arrasada.""
Terzian afirmou que os MsF deram à Força Aérea da Rússia as coordenadas dos três hospitais geridos pela ONG na Síria: "Estas estruturas devem ser protegidas. Mesmo a guerra tem regras, há convenções que se aplicam. Mas este não é o caso da Síria desde o início do conflito e isso se acentuou com os bombardeios russos a partir do fim de setembro de 2015."
Nas últimas seis semanas, cinco hospitais dos MsF foram alvejados. Ao todo, foram 17 hospitais, clínicas e postos de saúde. O hospital de Marat al-Numan atendia 40 mil pessoas. Tinha dois centros cirúrgicos, uma sala para emergências e 30 leitos. Foi totalmente destruído.
Desde o início da guerra civil, 117 hospitais, clínicas e postos de saúde foram alvejados pelo regime ou pelos vários grupos rebeldes, que ignoram as Convenções de Genebra.
A questão agora é se vai haver cessar-fogo a partir da sexta-feira, como prometeram os EUA e a Rússia, ou se o regime vai continuar atacando sob a cobertura aérea russa que mudou a relação de forças no campo de batalha.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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