Depois de uma reunião do gabinete de segurança e do cancelamento de uma viagem ao exterior do primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, a Turquia responsabilizou hoje guerrilheiros ligados ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) pelo atentando com carro-bomba que matou ontem 28 pessoas e deixou 61 feridas.
Davutoglu declarou que um sírio ligado às Unidades de Proteção Popular (YPG), o braço da guerrilha curda no Norte da Síria, que se mostrou a força terrestre mais eficiente no combate ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante e tem o apoio dos Estados Unidos e da Rússia.
A explosão ocorreu em hora de grande movimento no início da noite no centro de Ancara perto da sede do Parlamento e do quartel-general do Exército da Turquia. Os alvos foram ônibus que transportavam militares. O carro-bomba foi detonado quando eles estavam parados no sinal.
Os suspeitos são guerrilheiros curdos e a organização terrorista Estado Islâmico. O presidente Receb Tayyip Erdogan estava negociando a paz com os guerrilheiros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Depois da entrada de um partido curdo moderado na Assembleia Nacional nas eleições de 7 de junho de 2015, quando o governo perdeu a maioria, Erdogan rompeu as negociações, acusou os curdos moderados de apoiar a guerrilha separatista do PKK e declarou guerra ao Estado Islâmico. Desde então, bombardeia posições dos curdos e do EI na Síria. E conseguiu recuperar a maioria em novas eleições realizadas em 1º de novembro.
Como Erdogan pretende convocar um referendo constitucional para aumentar os poderes da Presidência, deve atiçar o conflito com os curdos nos próximos meses.
O atentado pode ser uma resposta das YPG, a guerrilha curda no Norte de Síria. Esse foi o quarto atentado violento nos últimos seis meses na Turquia. Os anteriores foram atribuídos ao Estado Islâmico.
A estratégia de Erdogan na Síria foi minada pela intervenção militar da Rússia a partir de 30 de setembro de 2015 para sustentar a ditadura de Bachar Assad. Erdogan gostaria de derrubar Assad e de criar uma zona de segurança e de proibição de voo no Norte da Síria para assentar os 2,7 milhões de refugiados sírios que estão na Turquia e impedir que os curdos tomem controle da área e tentem uni-la ao governo autônomo do Curdistão iraquiano.
Em 24 de novembro, a Turquia chegou a derrubar um avião de guerra russo alegando invasão de seu espaço aéreo. Com a Força Aérea da Rússia em ação, não há como criar a zona de exclusão aérea.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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