O Departamento da Defesa dos Estados Unidos afirmou ontem pela primeira vez que a Força Aérea do Irã também está atacando a milícia extremista muçulmana Estado Islâmico do Iraque e do Levante, informa o jornal francês Le Monde.
Em entrevista coletiva, o porta-voz do Pentágono, contra-almirante John Kirby, admitiu ter "indicações" de que o governo iraniano "fez bombardeios aéreos com aviões Phantom F-4 nos últimos dias" na província de Diala, no Iraque.
Em Teerã, o porta-voz do Ministério do Exterior do Irã, Marzieh Afkham, não deu maiores detalhes sobre a notícia, divulgada inicialmente pela televisão árabe especializada em notícias Al Jazira: "Realizamos missões áreas a pedido do Iraque e em coordenação com o Iraque. Cabe ao governo iraquiano abrir seu espaço aéreo. A política iraniana é dar apoio e conselhos aos responsáveis iraquianos na luta contra o EI."
Do lado americano, o porta-voz do Pentágono negou que haja qualquer coordenação com o Irã para evitar encontros inesperados dos aviões de guerra dos dois países.
O regime fundamentalista iraniano é um inimigo histórico dos EUA, mas, desde o ano passado, há uma reaproximação marcada por negociações em torno do programa nuclear do Irã para evitar que o país faça armas atômicas. Não houve acordo até o prazo-limite de 24 de novembro de 2014. As negociações foram prorrogadas até 30 de junho de 2015.
De 1980 a 1988, o Irã e o Iraque travaram a guerra mais sangrenta até hoje entre dois países muçulmanos, com total de mortos estimado em 1 milhão. Na época, o Irã foi invadido pelo então ditador iraquiano, Saddam Hussein, com o apoio dos EUA, da União Soviética, da Europa e do mundo árabe - todos preocupados com o radicalismo da revolução islâmica liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini.
A queda de Saddam Hussein na invasão americana ao Iraque, em 2003, abriu espaço político para a afirmação da maioria árabe xiita, que têm laços com o Irã e hoje domina o governo central iraquiano. Em última análise, o Irã foi um dos grandes beneficiários da aventura fracassada de George W. Bush ao tentar remodelar o Oriente Médio depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro.
No vácuo político criado pela ditadura dominada pela minoria sunita, a rede terrorista Al Caeda, responsável pelos atentados nos EUA, acabou se estabelecendo no Iraque com o apoio de ex-oficiais de Saddam e dos sunitas alienados pela maioria xiita.
Em 2013, Al Caeda no Iraque se transformou no Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que em junho de 2014 proclamou a fundação de um Califado sob a liderança de Abu Bakr al-Baghdadi nos territórios que tomou no Iraque e na Síria.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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