terça-feira, 27 de março de 2018

Kim Jong Un vai à China antes do encontro com Trump

Em sua primeira viagem ao exterior desde que virou ditador da Coreia do Norte, em 2011, Kim Jong Un foi ontem a Beijim, deixando claro que a China terá um peso importante nas negociações de sua aliada com os Estados Unidos. Kim deve receber o presidente Donald Trump até o fim de maio.

A presença de um trem blindado norte-coreano na estação central da capital da China suscitou especulações ontem. O regime comunista chinês confirmou a visita de Estado de dois dias, parte da preparação para a reunião de cúpula EUA-Coreia do Norte. Pelo esquema de segurança, Kim deve ter se encontrado com o ditador chinês, Xi Jinping.

Os dois países são antigos aliados. Durante a Guerra da Coreia (1950-53), quando a aliança liderada pelos EUA cruzou o paralelo 38º Norte na linha que divide as duas Coreias, a China entrou no conflito. Queria e conseguiu impedir a reunificação da Península Coreana sob o controle dos EUA, que ocupavam militarmente o Sul desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Dentro da Guerra da Coreia, houve uma guerra particular entre a China e os EUA - e a China ganhou. Conquistou o objetivo estratégico de empurrar os americanos e aliados para baixo do paralelo 38º N, restaurando a situação anterior à guerra. Nunca mais os EUA e a China estiveram em guerra.

Depois dos testes nucleares e de mísseis da Coreia do Norte, que aumentaram o risco de guerra, a China concordou com as sanções propostas pelos EUA dentro do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Maior parceira comercial de Pyongyang, a China é decisiva para a aplicação das sanções.

Sob pressão das sanções e das ameaças de guerra de Trump, no discurso de Ano Novo, Kim abandonou o discurso belicista, enviou uma delegação à Olimpíada de Inverno de Pyeongchang, na Coreia do Sul, marcou um encontro de cúpula com o presidente sul-coreano, Moon Jae In, e finalmente convidou Trump a ir à Coreia do Norte.

Ao mesmo tempo em que pressiona a China a enquadrar Kim, Trump anunciou a imposição de tarifas de US$ 60 bilhões sobre os produtos chineses. As duas maiores potências econômicas do planeta já estão negociando em sigilo, mas a ameaça de guerra comercial deteriorou as relações EUA-China.

Kim pode usar o encontro com Trump para alegar que está pronto para negociar a paz e assim pedir à China para aliviar as sanções. Na carta-convite, ele acenou com a possibilidade de abandonar as armas nucleares em troca de garantias de segurança.

Se Kim exigir a retirada das forças dos EUA da Coreia do Sul, hoje cerca de 28 mil soldados, a resposta certamente será não. Durante a Guerra Fria, as forças americanas estavam no Leste da Ásia para proteger seus aliados do Japão e da Coreia do Norte. Hoje, fazem parte da estratégia para conter a China. Uma retirada dos EUA deixaria o controle estratégico da região nas mãos da China.

"A visita de Kim a Beijim mostra a todos os países interessados que a China é um ator central na geopolítica do Nordeste da Ásia e que qualquer solução sobre a Coreia do Norte vai precisar da aprovação chinesa", declarou Dennis Wilder, ex-assessor do governo George W. Bush (2001-9) para a Ásia.

Há muito tempo, a China defende negociações diretas entre os EUA e a Coreia do Sul. Quando a hora chegou, não quer ficar de fora. "A China quer voltar ao jogo. Beijim não gosta a ideia de ficar nas laterais", comentou Paul Haenle, diretor do Centro Carnegie-Tsinghua para a Política Global, com sede em Beijim.

"Os chineses devem andar aliviados porque, pelo menos por enquanto, o governo Trump não numa ação militar contra a Coreia do Norte e a diplomacia está de volta", observou Bonnie Glaser, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), com sede em Washington. "Por outro lado, entendem que não podem proteger seus interesses se não estiverem envolvidos."

Beijim viu um Kim sorridente, mais autoconfiante com suas armas nucleares e sua nova estratégia diplomática.

De outra parte, o novo assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, o linha-dura John Bolton, ex-embaixador do governo George W. Bush na ONU, deixou claro seu conselho ao presidente Trump sobre o encontro com Kim: "Vamos entrar e perguntar a ele se está realmente disposto a abrir mão das armas nucleares. Em cinco minutos, o problema estará resolvido ou a reunião será encerrada."

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