quinta-feira, 22 de março de 2018

Guerra dos Fujimori e Odebrecht derrubam presidente do Peru

A três semanas da Cúpula das Américas, a que devem comparecer Donald Trump e Raúl Castro, o país-sede está sem presidente. Depois de um ano e oito meses no cargo, Pedro Pablo Kuczynski renunciou ontem à Presidência do Peru, em meio a uma guerra dos irmãos Fujimori. 

Kuczynski evitou uma segunda votação no Congresso para afastá-lo por envolvimento em escândalo com a construtora brasileira Norberto Odebrecht, de quem neste caso recebeu US$ 3 milhões quando era primeiro-ministro do presidente Alejando Toledo, em 2005-6, através da empresa Westfield Capital, noticiou o jornal peruano El Comercio

"Não quero ser um entulho para que nossa nação encontre o caminho da harmonia que tanto necessita e a mim negaram. Não quero que a pátria sofra. Trabalhei honestamente durante 60 anos da minha vida", declarou o presidente na televisão, pretextando inocência.

Ele será substituído pelo vice-presidente Martín Vizcarra, que era embaixador no Canadá e deve assumir o cargo na sexta-feira. Do exterior, Vizcarra declarou-se "indignado" e estar "pronto para servir o país". Sem maioria no Congresso, já sofre pressões para fazer apenas um governo de transição até uma eleição presidencial antecipada. O atual mandato vai até 2021.

No fim do ano passado, para escapar do primeiro processo de impeachment, Kuczynski deu um indulto ao ex-ditador Alberto Fujimori, que cumpria pena de 25 anos por violações dos direitos humanos durante seu governo.

Em troca, o deputado Kenji Fujimori conseguiu os 10 votos necessários para salvar PPK, como é conhecido popularmente, do primeiro processo de impeachment, por receber US$ 4 milhões da Odebrecht através de empresas de consultoria. Até poucos dias atrás, a mesma fórmula parecia prestes a dar nova sobrevida a PPK.

Traída pelo próprio irmão, a ex-deputada Keiko Fujimori, derrotada por Kuczynski no segundo turno da eleição presidencial peruana de 2016, divulgou agora um vídeo em que Kenji oferecia uma negociata com obras públicas numa compra de voto para salvar Kuczynski.

Foi o golpe final. Um ministro e dois deputados do PPK (Peruanos pelo Câmbio), partido criado para lançar a candidatura de Kuczynski à Presidência, pediram a renúncia: "A investidura presidencial vai muito além das pessoas. É necessário proteger as instituições. Por isso, com muito pesar, senhor presidente, lhe peço que dê um passo ao lado."

A Procuradoria-Geral da República pediu à Justiça que proíba a saída do país do ex-presidente.Três deputados e dois ministros também serão investigados por causa dos keikovídeos. Eles estão sendo comparados aos vladivídeos, em que o chefe do serviço secreto de Fujimori desmoraliza inimigos do regime depois do golpe de 1992.

O próprio papa Francisco ironizou, na última visita ao país: "O que há no Peru que todos os ex-presidentes são presos?"

Fujimori (1990-2000) recebeu indulto, mas a Justiça decidiu que o perdão de PPK não se aplica a outros casos. Toledo (2001-6) vive nos Estados Unidos, onde há um pedido de extradição. Alán García (2006-11) está sendo investigado. Ollanta Humala (2011-16) e sua mulher Nadine Heredia estão presos.

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