A expulsão de mais de cem diplomatas da Rússia de países ocidentais e de ex-repúblicas soviéticas "é uma resposta a um erro estratégico do governo Vladimir Putin". A longo prazo, vai levar a um isolamento maior e enfraquecimento, com consequências perigosas para o mundo inteiro, analisa o professor Paulo Wrobel, do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Duas semanas antes de Putin ser "reapontado como novo presidente da Rússia, porque eleição não houve, não tem oposição", um ex-agente duplo e sua filha foram envenenados com um agente neurotóxico em Salisbury, no interior da Inglaterra, e não foi o único caso, comentou o professor.
"Houve pelo menos 15 tentativas de assassinato de russos num Estado Nacional soberano, um atentado a soberania nacional com o uso de armas químicas. O Reino Unido reagiu moderadamente, expulsando 23 diplomatas russos, e a Rússia não escalou o conflito, admitindo a culpa. Todo o mundo sabe que foi a Rússia. Mais de 20 países reagiram em solidariedade ao Reino Unido", acrescentou Wrobel.
Uma conclusão é que, "mesmo com a saída britânica da União Europeia, a coesão anti-Rússia vai permanecer. A expulsão de diplomatas baseados nas Nações Unidas é significativa. A sede da ONU fica em território americano, mas é uma organização internacional. É uma pancada diplomática séria", entende o pesquisador.
O governo Barack Obama (2009-17) "fechou o consulado em São Francisco", base da espionagem russa no Vale do Silício, o grande centro da indústria de alta tecnologia nos EUA, lembra Wrobel. Hoje, "o governo Donald Trump fecha o consulado em Seattle, no estado de Washington, porque fica perto de uma base naval de submarinos, da Boeing e de outras empresas de alta tecnologia", como a Microsoft.
"A Guerra Fria acabou em 1991. Agora, é outro contexto. Estamos vendo uma solidariedade da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e de países que têm uma agenda pró-ocidental", a favor de uma ordem internacional liberal, argumentou o professor da PUC-RJ. "É uma união anti-Putin, resposta a uma ação excessiva e equivocada."
A violência política é uma marca do governo russo no plano interno. No exterior, tem consequências, nota Paulo Wrobel: "Putin pode matar quem quiser. O governo russo faz isso todo o tempo. Num país soberano, é diferente."
Hoje o número de espiões russos no Reino Unido é maior do que durante a Guerra Fria. Londres tornou-se um centro financeiro importante para os investimentos russos no exterior. "Há oligarcas amigos e inimigos de Putin no Reino Unido", observa o professor.
"A Rússia é um país com serviços secretos muito bem preparados, melhores do que os dos EUA durante a Guerra Fria. Putin vem do sistema de inteligência, que é quem manda no país. São profissionais de inteligência", afirma Wrobel.
Outra consequência da guerrinha fria de Putin: "O governo Trump se realinha com a OTAN, que sobrevive para conter a Rússia, especialmente depois da intervenção militar na Ucrânia em 2014. Talvez reflita as mudanças na equipe de política externa. Não há ninguém mais identificado com a linha dura do que o novo assessor de Segurança Nacional, John Bolton. O novo secretário de Estado, Mike Pompeo, também vem da direita republicana."
Putin tem fama de ser um bom tático, que conquista pequenas vitórias, mas um mau estrategista. Seu objetivo é restaurar o poder imperial da era soviética: "O Ministério do Exterior da Rússia iniciou uma pesquisa na Internet para decidir que consulado americano será fechado. É uma postura irônica, sarcástica, infantil e antidiplomática", criticou o professor.
"A médio e longo prazos, vai haver um maior isolamento russo", prevê Wrobel, que não acredita numa reaproximação consistente entre a Rússia e a China. "A Rússia foi o primeiro país europeu a invadir o Império Chinês, no século 17. Toda a costa do pacífico russa foi um dia parte do Império Chinês, inclusive sua maior cidade, Vladivostok."
Eles se aproximaram com as revoluções comunistas, mas tiveram "um sério conflito de fronteiras em que a União Soviética ameaçou usar armas nucleares, em 1969, e levou à reaproximação entre os EUA e a China".
Mais uma vez, o regime comunista da China deve aproveitar a fraqueza e o isolamento da Rússia para extrair mais concessões econômicas nas áreas de energia e matérias-primas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
segunda-feira, 26 de março de 2018
"Resposta a erro estratégico de Putin isola ainda mais a Rússia", diz professor
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