quinta-feira, 29 de março de 2018

França marcha contra o antissemitismo

Milhares de pessoas marcharam ontem da Praça da Nação, em Paris, até o edifício onde vivia Mireille Knoll, uma sobrevivente do Holocausto de 85 anos, brutalmente assassinada a facadas na semana passada. Os líderes da extrema direita, Marine Le Pen, e da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon, foram vaiados e obrigados a deixar a manifestação de protesto contra o antissemitismo.

A morte reabriu o debate sobre o renitente antissemitismo francês, "um antissemitismo que permanece, que se transforma, que reaparece, que é mutante", deplorou o primeiro-ministro Edouard Philippe.

O presidente Emmanuel Macron foi ao enterro e comparou o "terrorista de Trèbes", que matou quatro pessoas, e com quem "assassinou uma mulher inocente e vulnerável porque era judia." Ontem, o policial morto por um muçulmano fanático em Trèbes, Arnaud Beltrame, foi homenageado como herói nacional no Hotel dos Inválidos, onde fica o túmulo de Napoleão Bonaparte.

Mireille escapou por pouco de ir para o Velódromo de Inverno de Paris, para onde foram levadas mais de 13 mil pessoas, em 16 e 17 de julho de 1942, enviadas depois para campos de concentração pelo regime colaboracionista de Vichy, o governo-fantoche da França durante a ocupação pela Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-45).

Durante a campanha eleitoral do ano passado, Marine Le Pen, da Frente Nacional, tentou negar a responsabilidade dos franceses pelo caso do Velódromo de Inverno, botando a culpa nos alemães nazistas. A aliança França Insubmissa, de Mélenchon, apoia o movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções), acusado de ser contra a existência de Israel e não apenas da ocupação de territórios árabes.

Por isso, o Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (CRIF) não convidou os dois líderes extremistas para a Marcha Branca, alegando que difundem um discurso de ódio. O pai de Marine, Jean-Marie Le Pen, foi alvo do CRIF no passado, quando tentou negar a importância das câmaras de gás no genocídio dos judeus na guerra

"Ela sobreviveu ao Holocausto no século passado e penso que teve uma vida feliz, mas foi morta dentro de casa em 2018, frágil, sem defesa", contou a acompanhante Leila Dessante. "Que mundo é esse em que estamos vivendo?"

Seu corpo estava parcialmente queimado depois de receber 12 facadas. Os assassinos tentaram tocar fogo no apartamento. Dois suspeitos, Yacine M., de 27 anos, e Alex C., de 21, foram detidos, interrogados e soltos pela polícia. Yacine era um vizinho que frequentava o apartamento de Mireille. Alex, um amigo dele sem teto.

Yacine foi condenado em março de 2017 a dois anos de prisão por agressão sexual contra a filha da acompanhante da vítima. Saiu da cadeia em setembro graças a uma suspensão da pena. Ele estava em liberdade condicional, proibido de se aproximar do edifício de Mireille Knoll.

Alex saiu da cadeia em janeiro depois de ficar quase um ano preso por pequenos furtos e danos a propriedade alheia. O sem-teto declarou que o vizinho teria dito "Alá é grande!" na hora do ataque, num sinal de que seria terrorista muçulmano, mas os depoimentos foram contraditórios.

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