terça-feira, 20 de março de 2018

Sarkozy é preso sob suspeita receber dinheiro de Kadafi para eleição de 2007

O ex-presidente Nicolas Sarkozy foi preso hoje de manhã para ser interrogado no inquérito sobre um suposto financiamento ilegal que teria recebido do ditador da Líbia, Muamar Kadafi, para a eleição de 2007. Ele passa a noite numa delegacia de polícia de Nanterre. Pode ficar detido por até 48 horas.

Em março de 2011, quando as Nações Unidas autorizaram uma intervenção militar na Líbia para impedir Kadafi de massacrar os rebeldes cercados em Bengázi, em meio a uma rebelião da chamada Primavera Árabe, o ditador declarou à mídia francesa que Sarkozy lhe devia a eleição porque ele dera 50 milhões de euros (R$ 200 milhões pela cotação de hoje) à campanha eleitoral do presidente da França.

Na época, o limite de gastos de uma campanha presidencial na França era de 21 milhões de euros (R$ 82 milhões). O caso está sob investigação desde 2013.

Sarkozy é ouvido pela primeira vez neste caso semanas depois da prisão, em Londres, de seu ex-assessor Alexandre Djouhri. Em novembro de 2016, um empresário franco-libanês confessou ter levado três malas cheias de dinheiro da Líbia para o diretor da campanha de Sarkozy, Claude Guéant.

Em entrevista ao sítio de notícias Mediapart, Ziad Takieddine revelou ter feito três viagens da capital líbia, Trípoli, a Paris. Em cada viagem, carregou uma mala com 1,5 a 2 milhões em notas de 200 e 500 euros. Ele disse ter recebido o dinheiro do chefe do serviço secreto militar de Kadafi, Abdallah Senussi.

O ex-presidente chamou Takieddine de "mentiroso" e "condenado inúmeras vezes por difamação". Sarkozy governou a França de 2007 a 2012, quando perdeu a reeleição para o socialista François Hollande. Pouco depois da posse, convidou o ditador líbio para uma visita de Estado.

Durante a guerra civil na Líbia, temendo massacres e uma fuga em massa de refugiados pelo Mar Mediterrâneo, Sarkozy articulou com os Estados Unidos e o Reino Unido uma intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e de países árabes.

Essa intervenção foi decisiva para a queda e morte de Kadafi, em 2011. Não houve uma missão internacional de paz da ONU. Até hoje, a Líbia está em estado de anarquia, com governos paralelos e milícias rivais lutando pelo poder.

Em 2016, Sarkozy ficou em terceiro lugar nas eleições prévias do partido gaullista, conservador, de centro-direita, que hoje se chama Os Republicanos e perdeu muitos eleitores e deputados com a ascensão do presidente Emmanuel Macron e sua República em Marcha.

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