Com a economia em colapso, cresce a ameaça de um golpe militar contra o ditador Nicolás Maduro na Venezuela. Há um expurgo silencioso em andamento dos oficiais que participaram da tentativa de golpe liderada pelo coronel Hugo Chávez contra o presidente Carlos Andrés Pérez, em 4 de fevereiro de 1992.
Mais de cem militares foram presos desde o início do ano, inclusive comandantes de batalhão, sargentos, tenentes e até mesmo generais. Na quinta-feira, foi detido o general Alexis López Ramírez, ex-secretário do Conselho de Defesa da Nação (Codena). As autoridades não confirmaram a prisão e a família não sabe onde ele está.
As casas dos coronéis Erik Peña e Igber José Marín Chaparro, comandante do Batalhão de Infantaria Motorizada Juan Pablo Ayala, foram revistadas por agentes da Direção Geral de Contrainteligência Militar na mesma quinta-feira. Eles foram detidos em 2 de março sob a suspeita de pertencerem ao Movimento de Transição para a Dignidade do Povo, de oposição a Maduro.
Em 14 de fevereiro, foram presos o ex-ministro do Interior general da reserva Miguel Rodríguez Torres e 19 oficiais da ativa da Força Armada Nacional Bolivarista (FANB), entre eles comandantes de unidades com alto poder de fogo.
Antes de sua prisão, o general López Ramírez manifestou solidariedade ao companheiro: "Minha solidariedade ao companheiro RodTor, suas filhas e toda a sua família. Tudo passará e a Venezuela recuperará o caráter republicano que nos legou Bolívar e a democracia que tanto esforço, sofrimento e sangue nos custou no século passado. Viva Bolívar! Viva a Venezuela!"
Um mês antes da prisão de Rodríguez, em 15 de janeiro, o policial e piloto de helicóptero rebelde Óscar Pérez foi sumariamente fuzilado quando tentava se entregar ao ser encurralado, meses depois de atacar o Ministério do Interior no ano passado.
Ao liquidar o Rambo venezuelano, o policial era dublê de personagem do cinema e da televisão, Maduro mandou um recado claro: nenhuma dissidência militar será tolerada. Com a oposição desarmada, o ditador sabe que qualquer desafio à sua autoridade virá dos homens em armas. O fim da ditadura depende de uma cisão interna.
Agora, o próximo preso seria o general Clíver Alcalá Cordones.
"Não tenho dúvidas em assinalar que a Venezuela enfrenta a pior crise militar desde 1992. A de 2002 foi palaciana, daí a diferença", alertou a advogada venezuelana Rocío San Miguel, diretora da organização não governamental Controle Cidadão, comparando a situação atual com o golpe contra o então presidente Hugo Chávez 16 anos atrás.
"Pela primeira vez em seis anos, incluo o golpe de Estado entre minhas hipóteses, não com alta probabilidade, mas sim como uma variável em crescimento sustentado. E não necessariamente violento, mas como um produto de um acordo do chavismo militar dentro da FANB", acrescentou a advogada.
Com o colapso da economia, 40% menor do que em 2013, quando Chávez morreu, uma inflação de 13.000% ao ano, dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), e desabastecimento generalizado, os venezuelanos estão passando fome. Cada cidadão perdeu em média oito quilos nos últimos anos.
O governo Maduro distribui cestas básicas na periferia na campanha para a eleição presidencial de 20 de maio, mas policiais e militares de baixas patentes estão excluídos das mordomias do fracassado "socialismo do século 21". Suas famílias também passam fome e outras necessidades, como a falta de medicamentos básicos. A inquietação nos quartéis mina o regime. A fome tem um poder revolucionário.
Entre os presos, "não há militares oposicionistas", observa a analista Sebastiana Barráez. "Tinham comando e só aos mais testados dão poder de fogo." Ela entende que Maduro "pôs toda a FANB sob suspeita porque acabam de cair os 'incondicionais', os 'profundamente chavistas' e do componente mais determinante, o Exército. Está justificado o alarme."
O expurgo dos "profundamente chavistas", os aliados de primeira hora da tentativa de golpe de 1992, com a prisão do ex-ministro Rodríguez Torres, na opinião da advogada Rocío San Miguel, "é apenas uma mostra da ruptura em marcha entre o chavismo e o madurismo nas FANB. São previsíveis novas prisões nas próximas horas", previu, antes da detenção de López Ramírez.
"Aqui não pode haver golpe de Estado. Estamos no século 21", declarou à televisão estatal TeleSur o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, homem-forte do regime. Mas admitiu: "Agora, há tentativas e conspirações, e do império estão movimentando suas marionetes aqui na Venezuela, tentando fazer o que é impossível, usar a FANB com propósitos obscuros. A FANB está curada, tem maturidade política suficiente, tem integridade constitucional suficiente."
Por outro lado, a oposição formou a Frente Ampla Venezuela Livre para protestar contra a eleição presidencial antecipada por Maduro. Durante várias reuniões durante o fim de semana, uma nota foi lida na Universidade Andrés Bello: "Ratificamos a Assembleia Nacional como único órgão legislativo e desconhecemos a assembleia nacional constituinte que, sem tempo nem condições, convocou um evento presidencial, legislativo, regional e municipal que deveria ser feito de forma separada por ordem constitucional. Propomos uma ampla aliança em que esteja incorporada a FANB para dizer não à farsa eleitoral. Queremos votar, mas sem repressão, perseguição e inabilitação."
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 18 de março de 2018
Descontentamento militar aumenta ameaça de golpe contra Maduro
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