Como esperado, o Congresso Nacional do Povo aprovou hoje uma emenda constitucional acabando com os limites à reeleição do presidente da China, em vigor há 35 anos. Na prática, Xi Jinping deve virar presidente perpétuo e ditador vitalício, praticamente um imperador.
A proposta teria sido lançada pelo próprio Xi numa reunião do Comitê Central do Partido Comunista em 29 de setembro, antes mesmo de ser oficialmente reconduzido à liderança do partido, em outubro. Para não parecer um ditador, Xi deixou a iniciativa para dirigentes municipais e provinciais do partido.
Quando o então presidente Hu Jintao propôs reformas constitucionais, os projetos de emenda circularam nos órgãos do partido dois meses antes da sessão anual do Congresso. A proposta de reeleição ilimitada surgiu apenas oito dias antes, deixando pouco tempo para uma possível contestação, que não aconteceu.
Ao que tudo indica, Xi Jinping tem hoje amplo controle da máquina do partido e do governo. Os ex-presidentes Jiang Zemin e Hu Jintao, os únicos capazes de articular alguma reação, poderiam ser atingidos pela campanha anticorrupção usada por Xi para consolidar o poder. Numa ditadura, todos os líderes fazem seus negócios sujos.
Dos 2.964 delegados, 2.958 aprovaram a entronização de Xi como imperador praticamente por unanimidade. Só dois votaram contra. Houve três abstenções e um voto nulo.
Além da reeleição sem limites, o parlamento chinês votou a favor de outras 20 propostas de mudanças na Constituição, inclusive a que coloca o pensamento de Xi em seu preâmbulo.
Com seus superpoderes, o ditador está desmantelando as estruturas de poder criadas pelo dirigente Deng Xiaoping, o grande arquiteto das reformas econômicas, para evitar o culto da personalidade da era Mao Tsé-tung, que levou a grandes erros e catástrofes históricas como o Grande Salto para a Frente (1958-61) e a Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76).
A China volta a viver o dilema do bom imperador ou mau imperador, observou o jornal inglês Financial Times. Em comparação, Xi tem hoje muito mais poder. Mao era o líder da um país pobre, uma potência nuclear introvertida com uma turba de fanáticos que carregava seu livrinho vermelho. Xi preside um país que marcha para se tornar a maior economia do mundo sob um regime político cada vez mais totalitário.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
domingo, 11 de março de 2018
Congresso da China confirma fim dos limites à reeleição presidencial
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