O presidente Donald Trump deu hoje o primeiro tiro numa guerra comercial de consequências imprevisíveis, capaz de abalar o sistema multilateral de comércio criado pelos Estados Unidos depois da Segunda Mundial (1939-45) para evitar a volta da Grande Depressão (1929-39).
Além de sobretaxar as importações de aço em 25% e de alumínio em 10%, Trump ameaçou impor tarifas-espelho ou recíprocas no comércio exterior dos EUA. As novas tarifas entram em vigor em 15 dias. O Canadá e o México ficam isentos "por enquanto". Segundo maior exportador de aço para o mercado americano, o Brasil será afetado.
Ao lado de trabalhadores dos setores de aço e alumínio, o presidente se queixou do tratamento injusto que a maior economia da Terra teria recebido de seus rivais menos poderosos nas últimas décadas. Em seu estilo de palanque, mentiu sobre o déficit comercial dos EUA, dizendo ser de US$ 800 bilhões. No ano passado, foi de US$ 566 bilhões.
"Vocês qual a tarifa que carros importados dos EUA pagam na China? 25%. E os carros chineses pagam tarifa de 2,5?% para entrar nos EUA", afirmou Trump. "Isto vai mudar. Se cobram 25%, vamos cobrar 25%, tarifas-espelho, recíprocas."
Trump usou o argumento da segurança nacional, o artigo 232 da Lei de Comércio dos EUA, que não faz sentido porque o país não importa muito aço da China, só 2% do total. Os maiores exportadores de aço para o mercado americano são o Canadá e o Brasil, aliados e não inimigos dos EUA.
"Temos amigos e inimigos que lucraram muito conosco em comércio e defesa", acrescentou o presidente americano. "Se olharmos a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a Alemanha paga 1% do produto interno bruto e nós pagamos 4,2% de um PIB muito maior. Não é justo."
Os maiores parceiros comerciais dos EUA, a China, a União Europeia e o Canadá, ameaçaram impor tarifas retaliatórias às exportações americanas, numa guerra comercial. A UE exporta aço no valor de cerca de 5 milhões de euros por ano e outro milhão de euros em alumínio para os EUA. A comissária de Comércio Exterior, Cecilia Malmström, preparou uma lista de produtos tradicionais americanos a serem sobretaxados, inclusive manteiga de amendoin e whiskey bourbon.
A decisão de excluir o Canadá e o México aumenta a pressão sobre esses países na renegociação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).
Em protesto, depois de perder o debate com a ala protecionista, o principal assessor econômico da Casa Branca, Gary Cohn, um democrata, anunciou sua saída. A maioria dos economista prevê um aumento nos preços do aço e do alumínio com reflexos na fabricação de todos os produtos industriais dependentes destas matérias-primas.
Uma guerra comercial pode ter consequências arrasadoras. A última guerra comercial em escala global levou à Grande Depressão, principal causa econômica da Segunda Guerra Mundial.
Dentro do próprio Partido Republicano, os defensores do liberalismo econômico criticaram a decisão de Trump. O presidente da Câmara, deputado Paul Ryan, foi claro: "Estou em desacordo com estas decisão e creio que as consequências são imprevisíveis."
Enquanto os EUA adotavam o protecionismo econômico, 11 países (Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Cingapura, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã) assinaram hoje em Santiago, no Chile, a Parceria Transpacífica (TPP).
O acordo comercial negociado pelo governo Barack Obama foi repudiado por Trump assim que chegou à Casa Branca, em janeiro de 2017. Os outros países decidiram tocar a frente a TTP mesmo sem os EUA.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
quinta-feira, 8 de março de 2018
Trump sobretaxa importações e ameaça impor tarifas recíprocas
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