A proposta do governo Donald Trump para a paz no Oriente Médio vai manter a situação atual, legitimando a colonização dos territórios árabes ocupados na guerra de 1967. Vai criar um regime de apartheid em que israelenses e palestinos viveriam no Estado de Israel com direitos diferentes, liquidando o sonho de uma Palestina independente, denunciou o principal negociador palestino, Saeb Erekat.
Em informe apresentado ontem ao Conselho Revolucionário da Fatah (Luta), o partido dominante na Organização para a Libertação da Palestina, sob o título Ditados do Presidente Trump para uma nova fase: impondo uma solução, Erekat argumenta que o plano de paz dos Estados Unidos vai "levar à criação de um Estado com dois sistemas, legitimando o apartheid e as colônias de acordo com os critérios americanos".
O plano de paz de Trump não foi concluído oficialmente. Erekat afirmou ter recebido informações e advertiu que o movimento nacional palestino não deve perder tempo: "Não precisamos esperar até que as linhas gerais e o conteúdo deste ditado e desta liquidação sejam anunciados", alegou.
"De acordo com esta nova fase para os americanos, quem quiser a paz precisa concordar com o ditado dos EUA e quem se opuser ao plano será considerado parte das forças do terrorismo e do extremismo, que devem ser combatidas e expulsas", analisou o negociador palestino. "Para os EUA, moderação significa aceitar um ditado que endossa as posições de sucessivos governos israelenses.""
A previsão do dirigente palestino é que o plano de paz de Trump tenha os seguintes pontos:
• Reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel e transferência para lá da Embaixada dos EUA, o que está previsto para maio. Na visão de Erekat, isso significa aceitar a anexação por Israel do setor oriental de Jerusalém.
• O governo Trump vai "inventar" uma capital para o Estado palestino nos subúrbios de Jerusalém, foram dos limites atuais do município.
• Num período de dois a três, Trump reconheceria a anexação das colônias israelenses situadas nos territórios ocupados, cerca de 10% da Cisjordânia. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, quer anexar 15% da Cisjordânia.
• O próximo passo seria um acordo regional de segurança com a participação do Egito e da Jordânia para criar um Estado Nacional palestino desmilitarizado, apenas com forças policiais. Israel manteria sua presença militar no Rio Jordão e nas montanhas centrais da Cisjordânia.
• Israel faria uma retirada gradual do resto da Cisjordânia, sem data marcada. No fim deste processo, seria anunciada a criação do Estado palestino, que incluiria a Faixa de Gaza.
• O Estado de Israel seria reconhecido internacionalmente como a pátria do povo judeu e a Palestina como a pátria do povo palestino.
• Israel garantiria a liberdade religiosa em todos os lugares sagrados de Jerusalém.
• Os palestinos poderiam usar parte dos portos de Ashdod e Haifa e o Aeroporto Internacional Ben Gurion, mas a segurança ficaria a cargo de Israel.
• Os palestinos teriam presença nas fronteiras internacionais, mas a responsabilidade pela segurança continuaria com Israel.
• As águas territoriais, o espaço aéreo e o espectro eletromagnético ficariam sob o controle de Israel, sem prejuízo, em tese, para a Palestina.
• Um canal de tráfego seguro seria aberto entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, sob a soberania israelense.
• O direito de retorno dos refugiados palestinos desde a criação de Israel, em 1948, teria uma solução justa no contexto da criação de um país para os palestinos.
Estas são as linhas gerais do acordo com Erekat considera inaceitável. O apartheid era o regime segregacionista imposto à maioria negra pela ditadura da minoria branca na África do Sul até 1994. Os palestinos alegam que a anexação dos territórios ocupados, como prega a ultradireita israelense, os tornaria cidadãos de segundo classe.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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