Em mais uma decisão inesperada, o presidente Donald Trump demitiu hoje o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, alegando os dois têm "mentalidades diferentes" e discordavam em questões importantes como o acordo nuclear com o Irã.
O novo chefe da diplomacia dos Estados Unidos será o atual diretor de Agência Central de Inteligência (CIA), Mike Pompeo, que será substituído por Gina Haspel. Ela é acusada de participar de tortura de suspeitos de terrorismo na Tailândia, em 2002, e de destruir gravações que poderiam ser provas, em 2005.
Depois de um ano e dois meses no cargo, Tillerson soube da demissão pelo Twitter, pouco depois do jornal The Washington Post dar a notícia em primeira mão. Ele agradeceu a quem trabalhou com ele nos departamento de Estado e da Defesa, mas não ao presidente.
Trump e Tillerson tiveram várias desavenças em público. Na audiência de confirmação no Senado, em fevereiro do ano passado, o secretário adotou uma posição muito mais dura em relação à Rússia do que o discurso do presidente, suspeito de conluio com o Kremlin durante a campanha.
Tillerson propôs em abril um corte de 2,3 mil empregos e de 26% do orçamento do Departamento de Estado para poupar recursos a serem investidos pelo Departamento de Defesa dentro da política de Trump de dar mais valor ao poderio militar do que à diplomacia, como se o sucesso de um não dependesse do outro.
Internamente, isso foi visto como um enfraquecimento da diplomacia americana. Muitos diplomatas pediram demissão ou se aposentaram. Subsecretários como o da América Latina não foram nomeados.
O presidente rejeitou, em maio, o nome sugerido por Tillerson para subsecretário de Estado, Elliott Abrams, um linha dura da era Ronald Reagan (1981-89), por tê-lo criticado durante a campanha.
Apesar dos apelos de Tillerson, do secretário da Defesa, James Mattis, e dos generais do Pentágono, em 2 de junho, Trump anunciou a retirada dos EUA do Acordo de Paris sobre Mudança do Clima.
Quando a Arábia Saudita, o Egito e outras monarquias petroleiras do Golfo Pérsico decidiram boicotar e isolar o Catar sob a acusação de ser próximo do Irã, Trump apoiou a iniciativa do novo príncipe herdeiro saudita, Mohamed ben Salman. Tillerson pediu união no combate ao terrorismo.
Em outubro do ano passado, a imprensa americana revelou que o secretário chamou o presidente de idiota. Trump respondeu via Twitter que é mais inteligente e tem um quociente intelectual (QI) maior.
No mesmo mês, o presidente desprezou o esforço do secretário para negociar com a Coreia do Norte no Twitter: "Poupe sua energia, Rex! Vamos fazer o que tiver de ser feito", como quem diz que não valeria a pena o esforço de negociar, numa ameaça de uso da força.
Na semana passada, convidado pelo ditador Kim Jong Un para ir a Pyongyang, Trump aceitou imediatamente, enquanto o secretário observava que seriam necessários meses para preparar tal encontro.
Quanto ao Irã, Tillerson é a favor da manutenção do acordo nuclear negociado com as grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Sob pressão da direita republicana e de Israel, Trump é contra. Não acredita que o modelo iraniano sirva para negociar com a Coreia do Norte.
A esperada reunião de cúpula com o ditador norte-coreano será organizada por Pompeo, um linha-dura que se negou a condenar a tortura, fez várias declarações preconceituosas sobre muçulmanos, é contra o acordo nuclear com o Irã e não acredita que Kim cogite abrir mão de suas armas atômicas.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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