Depois de declarar que os objetivos da intervenção militar na Síria foram atingidos, o presidente Vladimir Putin anunciou hoje a retirada das forças russa do país. A Rússia entrou na guerra civil síria em 30 de setembro de 2015 em defesa da ditadura de Bachar Assad, sob o pretexto de "lutar contra o terrorismo internacional".
Na prática, seus objetivos foram alcançados. O regime de Assad se recuperou e os grupos armados apoiados pelo Ocidente, que nada tem a ver com terrorismo, foram enfraquecidos no momento em que as Nações Unidas, a Rússia e os Estados Unidos articulam negociações de paz. Mas os analistas esperam uma retirada apenas parcial.
A "maior parte" das tropas russas começa a voltar para casa amanhã, informou Putin. Ele afirmou que nenhum civil foi morto pelos bombardeios russos. Isso não é verdade, já que os ataques foram indiscriminados, mas ajuda a consolidar a imagem do chefe do Kremlin diante de sua opinião pública.
Ao bombardear maciçamente a Síria, a Rússia não sustentou Assad e debilitou os grupos apoiados pelos EUA e a Europa. Também provocou um aumento na fuga em massa de refugiados que batem às portas da Europa em busca de asilo, observou o advogado americano Michael Weiss, coautor de um livro sobre o Estado Islâmico do Iraque e do Levante.
Só a cidade de Alepo, que era a capital econômica do país antes de guerra civil, foi alvo de 800 ataques aéreos num dia em apoio à ofensiva das forças governamentais e milícias aliadas.
Ao mesmo tempo, Putin reforçou a imagem da Rússia como uma potência mundial presente no Oriente Médio, que não pode ser excluída das grandes decisões internacionais.
Esta saída inesperada, sob pressão da crise econômica russa e da necessidade de evitar o envolvimento de longo prazo, deixa claro que combater o Estado Islâmico e "o terrorismo internacional" nunca foi o objetivo de Putin, mesmo depois de um avião de passageiros russo ser derrubado no Egito com 224 pessoas a bordo.
Com mais de 260 mil mortes e 5 milhões de refugiados, a guerra civil na Síria completa cinco anos nesta terça-feira.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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2 comentários:
Pode ser tudo isso ou a tática do chicote, quanto mais a ponta do chicote recua, mais potente será o próximo golpe. em um futuro breve, saberemos qual foi a opção: política, econômica ou militar.
A Rússia foi, demonstrou força, testou e apresentou novas armas que estão à venda, e sustentou seu aliado Assad, objetivo central da intervenção. Voltou a ser uma grande potência no Oriente Médio, que não era desde a era soviética, manteve e ampliou suas bases militares, declarou vitória e caiu fora antes de ficar caro demais e de se envolver numa guerra que está longe de acabar.
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