Um tribunal de recursos da China negou hoje provimento a um recurso apresentado pelo ex-dirigente comunista Bo Xilai contra sua condenação à prisão perpétua por corrupção, abuso de poder e enriquecimento ilícito, acabando com uma carreira meteórica de estrela em ascensão da linha dura do Partido Comunista. Quando caiu em desgraça, ele era um dos 25 membros do Politburo do Comitê Central, candidato ao Comitê Permanente do Politburo, os sete imperadores que mandam na China.
Como líder do partido e governador da província de Xunquim, Bo Xilai resgatou métodos, a cultura vermelha do tempo de Mao Tsé-tung e até hinos de propaganda da Revolução Cultural a pretexto de combater a corrupção. Tentou criar uma nova esquerda mais estatizante, alternativa às políticas econômicas liberais adotadas a partir das reformas de Deng Xiaoping, sem abrir mão do investimento estrangeiro. Hoje a China é outra.
Bo Xilai investiu maciçamente em obras públicas, com casas subsidiadas para os pobres, e numa imagem de rigoroso e implacável com a corrupção. Em 2008, nas estatísticas oficiais, Xunquim cresceu 14,3%, acima dos cerca de 8% da China como um todo.
Na luta pelo poder, Bo montou um esquema de espionagem que teria escutado clandestinamente telefonemas do presidente Hu Jintao. Talvez essa infração à disciplina e à hierarquia interna do PC chinês tenha sido fatal para suas ambições.
Sua administração policialesca, marcada por abusos de poder e perseguições políticas, terminou quando seu vice e chefe de polícia pediu asilo num consulado dos Estados Unidos para denunciar Gu Kailai pelo assassinato do empresário britânico Neil Heywood, encontrado morto em 14 de novembro de 2011 num quarto de hotel em Xunquim.
Heywood era intermediário de negócios internacionais ilícitos do casal, que teria US$ 136 milhões no exterior, de acordo com reportagem da agência de notícias Bloomberg na época. Estaria pedindo comissões maiores, sob ameaça de revelar a trilha do dinheiro sujo de Bo Xilai e Gu Kailai. Foi envenenado por ela em cumplicidade com um assessor e o chefe de polícia de Xunquim.
Quando a Comissão Central de Inspeções Disciplinares do PC iniciou investigações na cidade de Xunquim, no início de 2012, um dos alvos eram Wang Lijun, o chefe de polícia e vice-governador que tinha sido o segundo de Bo nas campanhas anticorrupção.
Sob pressão da investigação aberta pelo governo central, em 16 de janeiro de 2012, Wang teria confrontado Bo, dizendo que tinha provas do crime cometido por Gu. No primeiro momento, o chefe teria mandado prosseguir o inquérito mas, a partir daí, começou a obstruir a investigação.
Em 2 de fevereiro de 2012, Wang foi afastado do inquérito, nomeado vice-governador para educação, ciência e meio ambiente, e colocado sob vigilância. Temendo pela vida, em 6 de fevereiro, pediu asilo ao Consulado Americano em Chengdu.
Bo foi afastado do cargo de líder regional do PC e governador provincial em 15 de março de 2012. Teve apenas um voto a favor no Comitê Permanente, na época com nove membros ou nove imperadores.
Em 10 de abril de 2012, Bo foi suspenso temporariamente do Comitê Central e do Politburo por estar sendo investigado por "sérias violações disciplinares". Em 28 de setembro, o Politburo decidiu pediu sua expulsão do partido. Em 26 de outubro, o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, retirou-lhe os últimos cargos públicos.
Sua mulher, Gu Kailai, foi condenada à morte em agosto de 2012 pelo assassinato de Heywood, com sentença convertida temporariamente em prisão perpétua, o que dificilmente aconteceria se o marido não tivesse caído em desgraça.
Dias antes do início do 18º Congresso Nacional do PC da China, em 4 de novembro de 2012, Bo foi formalmente expulso do partido. Isso abriu caminho para seu julgamento por corrupção, abuso de poder e enriquecimento ilícito que o condenou, em 23 de setembro de 2013, a ficar preso até o fim da vida.
Foi o processo mais politizado desde que a Gangue dos Quatro, liderada pela viúva de Mao, Jiang Ching, foi condenada por mortes, traição e abuso de poder, em 1981.
No tribunal, Bo rejeitou todas as acusações e alegou ser vítima de perseguição política. Agora, perdeu o último recurso. Acabou ele próprio servindo de exemplo para a campanha anticorrupção lançada pelo novo presidente Xi Jinping.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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