Com a sociedade libanesa cada vez mais dividida pela guerra civil na vizinha Síria, o primeiro-ministro Najib Mikati entregou hoje seu pedido de demissão ao presidente Michel Suleiman. Sua renúncia fora anunciada ontem, depois que o bloco parlamentar liderado pela milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus) impediu a formação de uma comissão para fiscalizar as próximas eleições parlamentares.
O presidente pediu ao primeiro-ministro demissionário que fique no cargo até a formação de um novo governo. Ao sair do Palácio Baabda, Mikati declarou que sua decisão abriu caminho para um diálogo nacional e a formação de governo de "salvação nacional", noticia o jornal libanês The Daily Star.
Além de ter uma milícia considerada mais poderosa do que o Exército do Líbano, o Hesbolá é um dos maiores partidos políticos do país e tem uma ampla rede de assistência social, voltada sobretudo para a comunidade xiita, uma das mais pobres do país.
A renúncia do governo acontece num momento especialmente difícil para seu país pequeno e frágil. O Hesbolá, financiado e armado pelo regime fundamentalista do Irã, apoia e luta ao lado do ditador sírio, Bachar Assad, da seita alauíta, um dos ramos do xiismo. Já os sunitas apoiam os rebeldes.
Cada vez mais o Exército sírio ataca do outro lado da fronteira. Alega estar atingindo bases e linhas de suprimento da oposição armada. Na segunda-feira, fez o primeiro bombardeio contra um alvo em território libanês.
Além disso, o Líbano está sob pressão com a entrada no país de 400 mil refugiados da guerra civil na Síria, onde mais de 70 mil pessoas foram mortas nos últimos dois anos, observa o jornal The Washington Post.
Sem uma liderança política, o Líbano corre o risco de ser cada vez mais envolvido no conflito da Síria, um país arrasado que terá enormes dificuldades para se reconstruir e pode viver muito tempo num estado de fragmentação, como acontece com o Líbano desde a guerra civil de 1975-90.
O Hesbolá luta abertamente ao lado de Assad. A queda da ditadura síria seria um duro golpe para a milícia xiita e seu padrinho político, a República Islâmica do Irã.
Com o reatamento de relações entre Israel e a Turquia, promovido pelo presidente Barack Obama, e a provável queda de Assad, o Irã ficaria mais isolado e o Hesbolá perderia seus dois patrocinadores. Está perto de uma situação de pânico, o que o torna ainda mais perigoso.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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