quinta-feira, 14 de março de 2013

Assassinos da ditadura argentina usam insígnia do Vaticano em tribunal

Um dia depois da eleição para papa do cardeal Jorge Mario Bergoglio, acusado de conivência com a última ditadura da Argentina, mais de 40 militares denunciados por crimes cometidos durante a chamada guerra suja se apresentaram no tribunal com insígnias do Vaticano na lapela.

O julgamento iniciado em dezembro de 2012 decide quem foram os responsáveis por crimes contra a humanidade cometidos no centro de detenção clandestino La Perla (A Pérola), em Córdoba, considerado o segundo pior da ditadura argentina, depois da sinistra Escola de Mecânica da Armada (Esma), em Buenos Aires.

Seu comandante era o general Luciano Benjamin Menéndez, chefe na época do 3º Exército argentino e próximo do então cardeal Raúl Primatesta, apesar de ser considerado um dos piores torturadores e assassinos da ditadura. Menéndez já acumula sete condenações à prisão perpétua.

Na audiência, María Patricia Astelarra, sequestrada em 1º de julho de 1976 junto com seu companheiro, Gustavo Adolfo Contemponi, descreveu os abusos sexuais de que foi vítima na Perla. Ela declarou que os repressores "sentiam um prazer sádico e mórbido" e "éramos vítimas desses jogos".

"Ser mulher significava algo mais de vexação e violação", acrescentou. "Os abusos sexuais sempre foram tortuosos e degenerados, com a participação de oficiais e suboficiais do Exército".

Entre os responsáveis por práticas "aberrantes", citou Ernesto Barreiro, Hugo Herrera, José Chubi López, Jorge Exequiel Rulo Acosta, Héctor Palito Romero e o já falecido Roberto Nicanor Mañay, além do general Menéndez.

"As mulheres eram reduzidas à servidão. Eram obrigadas a trabalhar e a ser escravas sexuais. Talvez muitas não consigam nem contar", depôs Astelarra. O promotor do caso, Facundo Trotta, ficou de abrir um processo específico sobre os crimes sexuais. María Patricia quer responsabilizar o Estado argentino pelos abusos cometidos pelos militares.

Quando seu filho nasceu, em janeiro de 1977, o pai de María Patricia Astelarra ficou com a neto. Dois meses depois, comprou a liberdade da filha por US$ 10 mil, lembra o jornal argentino Página 12.

Os torturadores e assassinos tiveram a ousadia de usar a insígnia branca-e-amarela da Santa Sé, como se fosse para confirmar que o famigerado "processo de reorganização nacional", o fantasioso nome do golpe, tinha o apoio da conservadora Igreja Católica argentina.

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