sexta-feira, 15 de março de 2013

Vaticano nega conivência do papa com ditadura

Diante dos protestos de organizações de defesa dos direitos humanos como as Mães e as Avós da Praça de Maio, o Vaticano rejeitou hoje as alegações de que o cardeal Jorge Mario Bergoglio, agora papa Francisco, tenha sido conivente com a última ditadura militar da Argentina, quando 30 mil pessoas foram mortas.

Para o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, "nunca houve uma acusação consistente" contra Bergoglio. Ao contrário, acrescentou, "há muitas declarações sobre o quanto ele fez por muitas pessoas para protegê-las da ditadura militar". Ele atribuiu as alegações à "esquerda anticlericalista".

Lombardi citou o ex-presidente da Comissão de Paz e Justiça de Arquidiciose de Buenos Aires durante a ditadura, Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, para afirmar que o cardeal Bergoglio "não tinha ligações com a ditadura militar", reporta o jornal The New York Times.

A conservadora Igreja Católica da Argentina sempre foi acusada de omissão e às vezes de conivência com a ditadura militar que se apresentava como defensora da civilização cristã e ocidental contra o comunismo. Ontem (leia abaixo), ex-militares denunciados por assassinato, tortura, sequestro e desaparecimento de pessoas compareceram a um tribunal em Córdoba, a segunda maior cidade argentina, com insígnias do Vaticano na lapela.

Durante viagem a Pescara, na Itália, a presidente da Associação das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, fez a seguinte declaração: "As Madres, há muitíssimos anos, quase desde o momento em que começamos nossa luta, tivemos relações somente com os sacerdotes do Terceiro Mundo. Nós fizemos uma lista de 150 sacerdotes assassinados pela ditadura, casos em que a Igreja oficial se calou e nunca reclamou por eles. As Madres falamos (sic) da Igreja oficial quando ninguém falava. A Igreja oficial é opressora, mas a do Terceiro Mundo é libertadora. Seguimos tendo relação só com os sacerdotes do Terceiro Mundo e sobre esse papa nomeado ontem só temos a dizer: Amém!"

Depois de negar durante anos a conivência com a guerra suja argentina, Bergoglio declarou à Justiça em 2010 que tinha se encontrado secretamente com o ditador-presidente Jorge Rafael Videla e com o comandante da Marinha, almirante Emilio Massera, para pedir a libertação de dois curas jesuítas.

Na época, em entrevista à imprensa, o novo papa afirmou ter ajudado a esconder e a tirar do país pessoas procuradas pela ditadura, além de pressionar os militares a soltar presos políticos.

As madres discordam. Gostariam que a Igreja argentina tivesse se comportado durante a ditadura como alguns bispos brasileiros que não se calaram diante da tortura como o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo. Mas a chamada Igreja progressista nunca elegeu um papa.

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