O magnata russo Boris Berezovsky, um dos oligarcas que fizeram fortuna com as privatizações da era pós-soviética, morreu hoje aos 67 anos em sua casa no condado de Surrey, na Inglaterra, onde estava exilado desde 2001, quando foi denunciado na Rússia por fraude e corrupção depois de entrar em conflito com o presidente Vladimir Putin.
A causa da morte não foi revelada. Há especulações sobre um possível suicídio, já que sua fortuna e seu prestígio estavam em declínio.
Com sua imensa fortuna, Berezovsky, um dos homens que implantou o capitalismo na Rússia, passou a exercer influência política. Isso o colocou em choque com Putin. O empresário levou a questão para o lado pessoal, mas não conseguiu derrubar o homem-forte do Kremlin.
Ao comentar a morte, o porta-voz de Putin revelou que há dois meses o presidente russo recebeu uma carta de Berezovsky pedindo perdão e o direito de voltar à Rússia.
Para o jornal conservador britânico The Daily Telegraph, ele era o mais famoso e animado dos olicargas surgidos com a reintrodução do capitalismo selvagem na Rússa nos anos 90. De professor de matemática e analista de sistemas com um salário mensal de 500 rublos, menos de R$ 40, transformou-se num multibilionário.
Depois do fim da União Soviética, em 1991, Berezovsky se aproximou do primeiro presidente da Rússia independente, Boris Yeltsin, e de sua poderosa filha Tatiana Diachenko. Na divisão do espólio do regime comunista, ele ficou com a companhia aérea Aeroflot, a empresa de petróleo siberiana Sibneft e 49% da televisão ORT, que usou para fazer campanha pela reeleição de Yeltsin, em 1996.
No fim do processo de privatização, Berezovsky e outros seis olicargas controlavam a metade do produto interno bruto da Rússia, reproduzindo na prática o que Karl Marx tinha dito ao descrever o processo de acumulação primitiva no sistema capitalista.
O sucesso de Berezovsky, acrescenta o Telegraph, pouco se deve à economia de mercado pregada por ele em público. Foi construído na base de conexões políticas, intrigas palacianas e suborno: "A privatização na Rússia teve três etapas: primeiro, a privatização do lucro; segundo, a privatização da propriedade; terceiro, a privatização da dívida", disse, em 1995. "Quero participar de todas".
Berezovsky apoiou a primeira eleição de Putin, em 2000. Na verdade, analisa a jornalista e biógrafa Masha Gessen, "os oligarcas estavam procurando um candidato que garantisse que não seriam processados pelos crimes cometidos nos anos 90", durante a reimplantação do capitalismo. Esperavam que Putin fosse dócil, acrescenta a autora de O Homem sem Face: a improvável ascensão de Vladimir Putin.
Com sua arrogância e prepotência, Berezovsky se tornara um dos homens mais odiados da Rússia. Putin fez campanha prometendo combater os oligarcas. Usou-o para dar uma demonstração de força e afirmar seu poder depois de ficar insatisfeito com críticas ao governo na Segunda Guerra da Chechênia e no naufrágio do submarino Kursk feitas na TV do empresário.
Em 2001, o magnata fugiu para a França e depois para a Inglaterra denunciando a volta ao autoritarismo. Sua prisão por negócios ilícitos e lavagem de dinheiro foi decretada em 2002. Berezovsky nunca mais voltou à Rússia.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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