Depois que dois aviões bombardeiros americanos B-2, com capacidade nuclear, sobrevoaram ontem a Coreia do Sul, o governo da Coreia do Norte colocou em prontidão suas unidades de mísseis estratégicos para um possível ataque contra os Estados Unidos e seus aliados. Mas só ameaça atacar se houver uma "grande provocação" do outro lado.
Se a participação dos bombardeiros nas manobras militares conjuntas anuais dos EUA com a Coreia do Sul fosse suficiente, os mísseis já deveriam ter partido. A Rússia criticou o aumento da "atividade militar" na Península Coreana, numa crítica às manobras.
Os EUA levam a sério a nova bravata da ditadura comunista norte-coreana. Mas não muito. Não acreditam, por exemplo, que o regime stalinista de Pionguiangue tenha a capacidade de atacar com bombas atômicas e mísseis de longo alcance. Assim, não poderia alvejar o território americano.
A Coreia do Norte blefa, mas sabe que a guerra apressaria o fim do regime, comentou o ex-secretário de Estado americano e ex-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general Colin Powell.
O país tem mísseis soviéticos Scud, de curto alcance, e mísseis de médio e longo alcances não testados plenamente, observa a agência de notícias Reuters. Desde 2006, fez três explosões nucleares experimentais, mas não se sabe se tem capacidade de fazer uma bomba atômica. Com certeza, não sabe colocar uma ogiva nuclear num míssil e explodi-la com precisão e milhares de quilômetros de distância.
Enquanto a Coreia do Norte acusa os EUA de quererem "iniciar uma guerra nuclear", o maior risco é de que um pequeno incidente possa deflagrar um choque armado.
A guerra não interessa a ninguém, especialmente à China, que conta com um ambiente politicamente estável a seu redor para manter seu extraordinário crescimento econômico, não quer uma intervenção militar dos EUA na sua fronteira nem que a Coreia do Sul e especialmente o Japão desenvolvam armas nucleares.
Mas esse clima de tensão permanente na Península Coreana, um resquício da Guerra Fria, é uma carta na manga da China para negociar com os EUA. O regime comunista da China não quer a queda do vizinho e cliente norte-coreano. "É a nossa Alemanha Oriental", comentou um alto funcionário chinês.
Para a Coreia do Sul, o colapso do regime norte-coreano jogaria nas suas mãos uma "Alemanha Oriental muito mais pobre". Diante do impacto da reunificação sobre a economia da poderosa Alemanha, o governo de Seul também não quer a queda da ditadura da dinastia Kim.
Com o fim das manobras militares dos EUA e da Coreia do Sul, a esperança é que a situação na última fronteira da Guerra Fria volte à estranha normalidade de uma tensa calma, enquanto o resto do mundo decifrar o enigma de Kim Jong Un, o jovem ditador que sucedeu ao pai em dezembro de 2011 e ainda está em fase de autoafirmação.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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