quarta-feira, 27 de março de 2013

República Centro-Africana repete história de golpes

Desde que a República Centro-Africana se tornou independente da França, em 1960, nenhum presidente transferiu o poder pacificamente a um sucessor eleito democraticamente. O ditador Jean-Bedel Bokassa chegou a se declarar imperador. Foi coroado Bokassa I em 1977 numa cerimônia inspirada por Napoleão.

A queda do presidente François Bozizé, derrubado por uma ofensiva rebelde do grupo Seleka (Aliança) é mais um capítulo repetitivo na história de um país "pobre em infraestrutura, mas rico em diamantes e golpes de Estado", como definiu o jornal Cameroon Tribune, da vizinha República dos Camarões.

Se desta vez a tomada do poder foi menos sangrenta, os habitantes da capital, Bangui, temem represálias e as organizações de ajuda humanitária denunciam assassinatos, violações e saques.

Apesar da promessa do líder rebelde Michel Djotodia de formar um governo de união nacional e de não lançar uma "caça às bruxas", o novo regime pode ser ainda mais autoritário, teme o professor Andreas Mehler, do Instituto Alemão de Estudos Globais.

"É possível uma política menos inclusive, sobretudo em relação aos muçulmanos", adverte Mehler em entrevista à televisão árabe especializada em notícias Al Jazira. "Pelo menos alguns componentes da aliança rebelde têm essa proposta".

Com ironia, o jornal digital Slate Africa diz que, "por ora, a ditadura da Seleka vai bem", lembrando que Djotodia pretende governar por decreto até convocar eleições "dentro de dois a três anos".

Enquanto o presidente deposto e a família se refugiam na República Democrática do Congo, são aos 4,5 milhões de habitantes da República Centro-Africana que vão pagar o preço da forte instabilidade política e da ditadura.

Como nota o jornal Le Pays, de Burkina Fasso, os golpes de Estado não podem trazer nenhuma solução para os problemas que afligem a África: "A sociedade centro-africana é uma sociedade onde os indivíduos, de maneira hobbesiana, vivem numa guerra permanente".

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