O candidato da oposição à Presidência da Venezuela, Henrique Capriles, atacou o ministro da Defesa, almirante Diogo Molero, por ter declarado que o falecido presidente Hugo Chávez será o "eterno comandante da revolução e das Forças Armadas", e dar apoio à candidatura oficial do vice-presidente nomeado Nicolás Maduro, que assumiu interinamente a Presidência.
"Você, ministro da Defesa, você é uma vergonha para o país e para as Forçar Armadas", protestou o governador Capriles durante entrevista coletiva realizada neste domingo. Ele colocou em dúvida a versão oficial sobre a morte de Chávez e acusou o regime de usar o cadáver do presidente para fazer política.
Com a comoção nacional causada pela morte de Chávez e a popularidade do líder morto, Maduro é o franco favorito para vencer a eleição extra de 14 de abril de 2013, que vai escolher quem vai completar o mandato de seis anos iniciado em 10 de janeiro. Capriles perdeu a eleição de 7 de outubro do ano passado para Chávez por 54% a 45%.
As declarações do ministro Molero deixam claro que o regime chavista não tem a menor intenção de deixar o poder. Como nas últimas eleições, vai colocar toda a máquina governamental e os formidáveis recursos gerados pelo petróleo venezuelano para garantir a vitória de Maduro.
Se a Venezuela não é uma ditadura, também não é uma democracia. É um regime autoritário que chegou ao poder democraticamente, mas abusa do poder, manipula as leis com a conivência dos poderes Legislativo e Judiciário, usa o dinheiro público como se fosse seu e é refratário a qualquer crítica.
Durante a era Chávez, a Venezuela ganhou US$ 800 bilhões da renda do petróleo. Reduziu a pobreza de 50% para 30% da população e a pobreza absoluta de 25% para 8%. O grande mérito do caudilho morto foi incluir os pobres no jogo político venezuelano, tornando-os cidadãos.
Para isso, ele semeou o conflito social para dividir e reinar, numa estratégica militarista, e arrasou a economia do país, que teve nesses últimos 14 anos um dos mais baixos índices de crescimento da América Latina. Uma das heranças malditas de Chávez é a politização das Forças Armadas, que não estão submetidas ao controle do poder civil como exige a ordem democrática.
Maduro, ex-motorista de caminhão que iniciou a carreira política como sindicalista, não tem fortes ligações com os militares, ao contrário do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, companheiro de Chávez desde o fracassado golpe de 1992 e seu maior rival na luta para ver quem será o herdeiro do comandante.
Por enquanto, a necessidade de manter o poder vai manter o movimento bolivarista unido. É uma questão de conveniência política. Até quando? Vai depender da capacidade do governo Maduro de recuperar a economia. Se prevalecer o discurso ideológico do "socialismo do século 21" e a prática caótica da era Chávez, logo o governo começará a ser cobrado por resultados.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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