O "presidente por acidente", como Fernando Henrique Cardoso costuma se autodescrever, criticou em Washington os programas de austeridade que não deixam margem à esperança, como os impostos pela Alemanha aos países da Zona do Euro em dificuldades para pagar suas dívidas, e o radicalismo do grupo radical de direita americano Festa do Chá.
Durante visita aos Estados Unidos para receber o Prêmio Kluge, de US$ 1 milhão, da Biblioteca do Congresso, o ex-presidente responsável pelas reformas que modernizaram o Brasil defendeu a necessidade de "complementar o desenvolvimento com algumas medidas sociais", como acesso à terra, um sistema de impostos mais justo e educação".
Em entrevista ao jornal The Washington Post, Fernando Henrique considerou importante usar o poder do Estado para reduzir a desigualdade social. O prêmio foi concedido por "seus estudos sobre a estrutura social do governo, da economia e das relações raciais" que ajudaram a transformar o país "de uma ditadura militar... num democracia vibrante e mais inclusiva".
Ao comparar as políticas de cortes de gastos que acompanharam o Plano Real com os remédios adotados na crise das dívidas públicas da Zona do Euro, FHC revelou ter sido muito pressionado para tomar medidas fiscais mais duras: "Precisei ser cauteloso, porque as pessoas têm de ter esperança".
Se as medidas para equilibrar as contas públicas forem muito duras e não houver esperança no futuro, será impossível implementá-las, argumentou o ex-presidente brasileiro: "Então, tentei combinar algum grau de crescimento com a austeridade fiscal. Na Europa, o que está acontecendo é pedir ao povo que seja mais austero. Eles estão cortando as políticas sociais sem abrir possibilidades. Penso que é isso que provoca agitação social".
Para um brasileiro, é difícil entender o radicalismo do movimento direitista Festa do Chá, que tira seu nome de um grande protesto contra impostos cobrados pelo Império Britânico que foi um dos estopins da independência dos EUA. É um pessoal revoltado contra o endividamento público e a carga fiscal.
"A democracia exige algum grau de acomodação", observou. "É claro que você deve levar em conta os princípios sempre. Mas, se você está numa situação democrática, tem de aceitar o governo da maioria com respeito aos direitos das minorias. Então, é preciso negociar acordos. O movimento Festa do Chá me parece não ter nenhuma inclinação para fazer acordos. Eles têm visões claras sobre o que acham bom e ruim. Em certa medida, eles são fundamentalistas, e o fundamentalismo é ruim para a democracia".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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