A derrota do Partido Republicano e do presidente George Walker Bush nas eleições de 7 de novembro para o Congresso dos Estados Unidos foi festejada na América Latina. É uma das regiões onde o antiamericanismo é mais forte por viver sob a área de influência direta da única superpotência. Mas agora que a situação começa a ser encarada com maior realismo, os latino-americanos temem o protecionismo do Partido Democrata por causa da sua ligação com os sindicatos.
Se os acordos de livre comércio com a Colômbia e o Peru "não forem aprovados no Congresso, saem fortalecidos políticos como [o presidente da Venezuela, Hugo] Chávez e os velhos argumentos de que não se pode confiar nos EUA e de o livre comércio não funciona", declarou em Washington o economista peruano Hernando de Soto, assessor do presidente Alan García e um dos principais lobistas que tenta sensibilizar deputados e senadores americanos.
Estes dois países já têm acordos preferenciais de comércio com os EUA assinados em 1991 para desestimular a produção de cocaína, que precisam ser renovados. Sem um crescimento econômico que lhes permita combater a miséria da maioria da população, a expansão da economia da droga é inevitável.
"Seria um desastre", comentou o ex-ministro da Fazenda da Colômbia, Sergio Clavijo. "Sem o crescimento das exportações, o narcotráfico é a única saída". Mas isto não parece sensibilizar os congressistas americanos.
As exportações peruanas que se beneficiam do acordo para combater a droga chegam a US$ 2 bilhões anuais e garantem 500 mil empregos.
"Os investidores não correrão riscos se o acesso ao mercado não estiver garantido", advertiu o presidente colombiano, Álvaro Uribe, principal aliado dos EUA na América do Sul. Esta incerteza custou 7 mil empregos na Colômbia nos últimos quatro meses.
Desde 2000, desapareceram 3 milhões de empregos na indústria nos EUA e a pressão da concorrência da mão-de-obra barata de países em desenvolvimento, sobretudo da China, provoca um achatamento nos salários americanos.
"A mensagem desta eleição para mim é que todos estes acordos comerciais precisam ser renegociados", declarou ao jornal The Washington Post o deputado Sherrod Brown, que conquistou uma cadeira no Senado por Ohio prometendo defender o emprego. "Quando uma fábrica com 300 empregados fecha numa cidade de 20 mil habitantes, atinge famílias e destrói comunidades".
Outro proeminente líder democrata, o deputado Charles Rangel, já enviou uma carta à representante comercial dos EUA propondo a inclusão de cláusulas trabalhistas nos acordos com a Colômbia e o Peru. As renegociações dificilmente seriam concluídas antes do final de junho de 2007, quando vence a Autorização para Promoção Comercial dada pelo Congresso ao presidente dos EUA para negociar acordos internacionais de comércio, observa a revista inglesa The Economist, que também discute o assunto, na sua edição de hoje.
Com a maioria democrata no Congresso, talvez a autorização não seja renovada.
O problema, alerta Michael Shifter, do InterAmerican Dialogue, um centro de pesquisas com sede em Washington, é que "o comércio é o único aspecto positivo da agenda dos EUA com a América Latina. O resto é negativo: imigração, tráfico de drogas..."
Mais uma vez, os EUA ameaçam virar as costas para a América Latina. Sua área de maior interesse hoje é a Ásia. Mas é da Ásia, e não da América Latina, que vêm as maiores ameaças aos trabalhadores dos EUA e do resto do continente.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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