Os componentes eletrônicos representam hoje 70% dos custos das armas de guerra. Mas apesar da queda nos preços dos componentes eletrônicos, que se reflete na queda dos preços de computadores, os preços das armas continuam subindo porque os países querem acondicionar as novas tecnologias em navios, aviões e tanques semelhantes aos da Segunda Guerra Mundial, em vez de partir para sistema mais flexíveis, adaptáveis às diferentes exigências da guerra pós-moderna, afirmou o pesquisador Edward Luttwak, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), de Washington.
“É um enorme paradoxo”, constata, sem esconder sua perplexidade. “O custo dos componentes eletrônicos continua a cair. Tenho um pequeno laptop que pode fazer operações que custariam US$ 500 milhões há uma década. O preço das armas deveria cair. Um grande destróier deveria custar um quinto; aviões, um décimo. Mas estão se tornando mais caros”.
Uma das razões é a redução da demanda na era pós-Guerra Fria. “Durante a Segunda Guerra Mundial, para manter sempre pelo menos mil bombardeiros em combate, a Força Aérea Real encomendava 500 aviões por ano. Hoje não é mais indústria, é artesanato”, observou Luttwak, ao participar do 6º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, realizado na Escola de Guerra Naval, no Rio, de 8 a 10 de novembro.
Enquanto uma fábrica de automóveis produz 20 mil veículos por ano, em 25 anos foram vendidos 2,5 mil caças-bombardeiros F-16. “Não há solução”, resigna-se o estrategista. “Ninguém vai comprar mil por ano”.
Luttwak lembra que da Primeira Guerra Mundial para a Segunda Guerra Mundial houve uma mudança radical nas formas e nos materiais usados em armamentos. Mais de 60 anos depois do último grande conflito internacional, os navios, aviões e tanques mantêm a mesma forma.
“Em 1945, os Estados Unidos ganharam a guerra no Pacífico com porta-aviões. Eram perfeitos para a tecnologia da época. Mas os tanques de hoje têm exatamente a mesma forma dos tanques alemães da Segunda Guerra. Como não houve nenhuma grande guerra desde 1945, não houve grandes mudanças”, acrescenta.
Naquela época, “não havia mísseis instalados em navios nem armas precisas, sistemas automáticos, aeronaves sem piloto. Hoje, há possibilidades completamente diferentes mas a indústria bélica é obrigada a forçar a tecnologia a se adaptar às formas preexistentes, em plataformas obsoletas”, acredita Luttwak.
O uso intensivo de informática provocou uma revolução, permitindo o desenvolvimento de armas de alta precisão. “Em 1978, a União Soviética percebeu que estava ficando para trás em tecnologia. Um marechal disse ao então dirigente máximo soviético, Leonid Brejnev, que o país precisava se tornar líder mundial em informática. ‘Nós dominaríamos o mundo’, teria dito Brejnev. Mas sabia que era impossível”.
MAIOR ADAPTABILIDADE
Na última revisão estratégica no Reino Unido, diz o estrategista, “a Força Aérea Real lançou a idéia de um grande avião adaptável, um Boeing 737 com tanques extras. Não tem o charme de um Spitfire [caça britânico da Segunda Guerra] ou outros caças. Também é possível usar um grande navio adaptável para fazer patrulhamento marítimo num dia, detecção de submarinos noutro e controlar o espaço aéreo em outro, sendo dotado da mísseis antiaéreos e submarinos”.
Há uma relutância em abandonar as antigas armas, símbolos da guerra. “Toda Marinha ama porta-aviões e submarinos”, comenta. “Tenho uma série de novas tecnologias mas não posso instalá-la nos seus navios”.
Mesmo os EUA, a última superpotência, responsável pela metade dos gastos militares mundiais, “nos últimos 50 anos adotou uma estratégia voltada para uma guerra na Europa, para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte)”. Hoje, com o fim das guerras entre grandes potências, as necessidades são completamente diferentes.
“Um navio-arsenal se parece com um navio de transporte, é maçante e não-tradicional”, admite, ressalvando que a questão naturalmente não é estética. “Por que não ter a melhor capacidade? Israel, por exemplo, está investindo em aviões sem piloto.
Voltando ao fracasso da invasão do Iraque, o pesquisador do CSIS negou que haja uma queda no moral das tropas americanas: “A guerra contra insurgência é difícil para qualquer democracia. A tática é: você manda um soldado na frente; se ele é morto, você vai lá e destrói a cidade inteira. Se os outros não quiserem morrer, se submetem. Se não se submeterem, você continua com a mesma tática. As guerras imperiais eram assim”.
Na sua opinião, foi assim que a Alemanha nazista controlou toda a Europa continental, da França à Rússia: “Houve resistência na França, mas não durante a guerra. Não há solução técnica. É preciso aterrorizar os terroristas. Nenhuma democracia pode fazer isso. Israel não pode fazer o que o Império Otomano fazia no Oriente Médio”.
Por fim, diante dos riscos de proliferação nuclear, Luttwak afirmou que “as armas atômicas foram removidas de qualquer planejamento militar. Na estratégia da Otan, depois de alguns dias de guerra, seriam usadas armas nucleares.
“Ainda não estamos na era pós-nuclear. Mas as armas nucleares foram retiradas de navios, submarinos, torpedos, mísseis de curto alcance e aviões bombardeiros. Só há ogivas em mísseis balísticos intercontinentais, enterrado em silos subterrâneos, controlados e impossíveis de ativar. Nenhum planejador militar pensa em usá-las. Mas os EUA, a Rússia e a China querem manter uma superioridade nuclear sobre os demais países”.
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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