O ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger (1974-77) propôs hoje a convocação de uma conferência internacional sobre o Iraque, advertindo que o colapso da autoridade naquele país pode provocar conseqüências desastrosas para o Oriente Médio e levar a novas intervenções militares do Ocidente na região.
Kissinger defendeu a abertura de diálogo dos Estados Unidos com o Irã como única forma de evitar uma confrontação.
"Temos de chegar logo a alguma definição internacional sobre o que é uma solução legítima - algo que possa ser apoiado pelos países vizinhos, por nós e nossos aliados", declarou o ex-secretário de Estado e ex-assessor de Segurança Nacional no governo Nixon (1969-74), em entrevista à TV pública britânica BBC, de sua casa em Connecticut, nos EUA.
"Em algum momento, em breve, deve ser convocada uma conferência internacional envolvendo os países vizinhos, talvez os membros permanentes do Conselho de Segurança [das Nações Unidas] e países que tenham um interesse direto, como a Índia e o Paquistão", declarou Kissinger.
Para o ex-secretário de Estado, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz por um acordo que não deu certo no Vietnã, a vitória dos EUA é impossível nas atuais condições: "Se vc chama de uma vitória militar clara o estabelecimento de um governo iraquiano por todo o país que controle a guerra civil e a violência sectária num tempo tolerável para o processo político de uma democracia, não acredito que seja possível".
Na sua opinião, "um colapso dramático do Iraque, o que quer se pense de como a situação foi criada, terá conseqüências desastrosas pelas quais pagaremos por muitos anos e que vai nos levar de volta à região de um modo ou de outro".
Os EUA romperam relações diplomáticas com o Irã desde que a embaixada americana em Teerã foi ocupada por guardas revolucionários que mantiveram reféns durante 444 dias, depois da Revolução Islâmica do aiatolá Ruhollah Khomeini, em 1979. Agora, os EUA querem que a ONU imponha sanções ao Irã, que se nega a abandonar seu programa nuclear, suspeito de desenvolver armas atômicas.
"Acredito que os EUA devem ter algum diálogo com o Irã", observou Kissinger. "Parece-me que o problema fundamental é este: o Irã vai se comportar como uma naçã ou uma cruzada? Se o Irã é uma nação, deve ser possível definir um relacionamento em que o Irã, junto com todas as outras partes interessados, contribua para a estabilidade da região e desempenhe um papel respeitável".
Este é o blog do jornalista Nelson Franco Jobim, Mestre em Relações Internacionais pela London School of Economics, ex-correspondente do Jornal do Brasil em Londres, ex-editor internacional do Jornal da Globo e da TV Brasil, ex-professor de jornalismo e de relações internacionais na UniverCidade, no Rio de Janeiro. Todos os comentários, críticas e sugestões são bem-vindos, mas não serão publicadas mensagens discriminatórias, racistas, sexistas ou com ofensas pessoais.
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2 comentários:
Tática de Kissinger para abrir terreno para novas intervenções?
Kissinger é pragmático e realista. Tem noção do tamanho da confusão em que os EUA se meteram, e sabe que a única saída é um esforço coordenado com os países da região. Depois desta intervenção fracassada, fica difícil imaginar outras, a não ser que os EUA sintam-se realmente ameaçados, como no caso do Irã. Ainda que a ameaça maior de uma bomba atômica iraniana seja para Israel, é possível um bombardeio americano contra alvos do programa nuclear do Irã. Mas não haverá invasão terrestre do Irã.
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