domingo, 12 de novembro de 2006

EUA bombardeiam se Irã não desistir da bomba

Se o Irã não abandonar o projeto de fabricar a bomba atômica, os Estados Unidos farão um bombardeio aéreo seletivo, previu o pesquisador Edward Luttwak, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), de Washington, no 6º Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, realizado na Escola de Guerra Naval, no Rio.

“Não será permitido que os iranianos façam armas nucleares”, advertiu o professor, reproduzindo uma frase que já foi dita pelo presidente George Walker Bush. Diante do fracasso da intervenção no Iraque – e também porque o Irã é maior e mais poderoso –, “não haverá invasão nem democratização, talvez um ataque aéreo a uns 70 prédios em uma noite”.

Do ponto de vista meramente operacional, ele considera viável um “bombardeio cirúrgico” capaz de neutralizar as instalações nucleares iranianas: “Hoje temos bombas inteligentes capazes de penetrar mais de 100 metros na rocha e atravessar chapas metálicas”.

Com a Coréia do Norte, os Estados Unidos optaram pela solução diplomática: “É um cão que ladra mas não morde”.

De resto, Luttwak prevê o fim do ativismo em política externa: “Será uma volta ao primeiro governo Clinton. Durante o genocídio em Ruanda, havia tropas belgas da ONU e a França ajudou a proteger a retirada dos seus aliados hutus. Os EUA deixaram para a União Européia: se vocês não fazem, também não faremos”.

Clinton estava sob o impacto do fracasso na Somália, onde 18 fuzileiros navais foram mortos e alguns arrastados pelas ruas de Mogadíscio, numa humilhação da superpotência.

“Hoje a Rússia voltou a ser uma grande potência”, entende o pesquisador do CSIS. “Não é uma nova União Soviética nem uma superpotência global. Mas não permite a independência da Geórgia. É uma potência regional que pretende dominar o Cáucaso e a Ásia Central”.

Já a China, para Luttwak, “é um grande fenômeno econômico mas não uma potência econômica. O governo não controla a economia”.

Diversos professores com quem conversei no plenário discordaram neste ponto. Se o governo chinês tem U$$ 1 trilhão em reservas, a maior parte em dólares, me parece uma superpotência econômica. Claro que depende do mercado dos EUA para crescer 10% ao ano.

Então há uma crescente interdependência: os asiáticos financiam o déficit público dos EUA e os americanos consomem os produtos asiáticos.

Se considerarmos superpotência um país capaz de projetar seu poder por todo o mundo, a China é uma superpotência. Tem superávits comerciais de mais de US$ 200 bilhões com os EUA e de US$ 146 bilhões com UE, penetra cada vez mais na América Latina, onde suas exportações industriais concorrem com produtos brasileiros, e acaba de realizar uma conferência de cúpula com a África para investir em energia e matérias-primas daquele continente.

CHINA NÃO AMEAÇA
Apesar das declarações passadas do demissionário secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, de que a China está gastando mais em armas do que declara, Edward Luttwak qualifica o poderio militar chinês como “pequeno. O orçamento militar cresce 1% ao ano. Eles não estão comprando muitos equipamentos novos. Hoje em dia, só a Rússia, que é uma potência regional com um grande arsenal nuclear, poderia ameaçar os EUA.”

Já o Brasil “não faz parte do horizonte da segurança dos EUA. É um país bem-sucedido que não ameaça seus vizinhos. A América Latina é negligenciada porque o Brasil sozinho mantém a estabilidade. Não há necessidade de tropas nem de bases americanas”, argumentou.

Há uma preocupação com a tríplice fronteira Brasil-Argentina-Paraguai na Foz do Iguaçu, onde há contrabando e lavagem de dinheiro que seria enviado para grupos radicais no Oriente Médio. Os dois atentados contra alvos judaicos em Buenos Aires nos anos 90 teriam sido cometidos pela milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus), a serviço do Irã, conforme recente denúncia da Procuradoria da Justiça Argentina.

No VI ENEE, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário-geral do Itamaraty, afirmou que os americanos nunca apresentaram nenhum indício consistente de atividades ligadas ao terrorismo na tríplice fronteira.

“É um centro de migrantes libaneses. O Hesbolá mandou arrecadar fundos lá. Houve os atentados em Buenos Aires. Mas os EUA não vão invadir. Pediram maior vigilância à autoridades brasileiras”, foi a verão do pesquisador americano.

Quando estourou a crise no Haiti, com a queda do presidente Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004, recorda o pesquisador do CSIS, “os EUA estavam sobrecarregados. A França, que tinha sido contra a guerra no Iraque e queria melhorar as relações com os EUA, se ofereceu. Mas como ex-potência colonial, não seria a melhor opção. Uma política externa menos ativa dos EUA na região abre mais oportunidades para o Brasil”.

Um comentário:

Andrea disse...

Olá, Nelson, tudo bem?
Trabalho na BBC Brasil em Londres e estou procurando entrevistados com o seu perfil para falar sobre as relações EUA-Irã. Infelizmente, preciso falar com pessoas que morem fora do Brasil e falem português. Gostaria de saber se você teria alguém para me indicar...